terça-feira, 24 de novembro de 2009

A informação que desinforma

A palavra enciclopédia remete aos anos em que os trabalhos da escola eram consultados naqueles grandes livros de capa dura que sempre tinham as respostas para as nossas duvidas. Um emaranhado de palavras com seus respectivos significados que iam alem do dicionário. Mais do que apenas denotar o sentido da palavra, a enciclopédia ainda nos proporcionava um mundo de conhecimento. Se quiséssemos saber sobre Cuba, por exemplo, ou sobre o funcionamento do fígado, lá estavam as respostas. Uma grande leva de conhecimento, porem sem um guia para sabermos como interpretar essas informações de um modo critico.

Santo Isidoro, o autor da primeira grade enciclopédia crista, pode evidenciar a vertigem do ciberespaço, que seria a forma moderna do saber. Segundo Olga Pombo, “o hipertexto, enquanto dimensão chave da Internet, um dispositivo que permite conectar em rede as informações disponíveis em todos os servidores do mundo, se ofereceria como a potenciação da idéia de enciclopédia”. O mundo de informações agora se tornou virtual, mas continuamos sem saber o que fazer com elas. 

No conto Funes, o memorioso, do escritor argentino Jorge Luís Borges, a personagem Irineu Funes nunca mais se esqueceu de absolutamente nada. Devido a um acidente, sua memória registrava todos os mínimos detalhes. Por causa disso, foi apelidado de memorioso. Esse texto pode ser uma metáfora do hipertexto, da enciclopedia na internet, pois apesar de sua hiper-memória, Funes, ao mesmo tempo em que guardava tudo, ele não pensava por conta própria, nao conseguia organizar suas idéias nem interpreta-las de uma forma critica, assim como a internet.

Hoje, podemos dizer que os tempos são complexos. Somos sufocados pelo excesso de informação, esquecemos sempre o que vimos, ouvimos ou pensamos minutos atrás. A internet ocupa a cena com suas grandes e gloriosas informacoes. Mas as consequencias disso nao sao percebidas já. Elas aparecem conforme o homem percebe que a tecnologia nos faz sentir asfixiados. A quantidade de informação excede nossa capacidade de percepção e absorção. Nos perdemos no meio de tantas coisas que parecem nao fazer tanto sentido e nao sabemos o que fazer com tudo isso.

Em seus textos "Informação e Sentido" e "O projeto da enciclopédia e seus registros sobre o jornalismo", Paulo Serra e Antônio Hohlfeldt, respectivamente, recontam a constituição da enciclopédia como uma solidificacao da memoria. Trata-se de um grande arquivo que deixa registrado a evolução e desenvolvimento ideológico dos homens. 
O mais interessante está em encontrar uma base que sustente toda essa informação que se encontra dispersa. Ter discernimento para dizer que algo é mais importante que outra coisa e não deixar isso para convenções individuais. 

O que é importante para uns pode não ser para outros. Mas independente do que mais importa, é o fato de que com tanta informação, como poderemos captar tudo isso e usar para nosso beneficio? Porque o fato de lermos ou assistirmos ou ouvirmos tanta coisa, não quer dizer que de fato sabemos o que esta acontecendo. Acho que por isso a depressão e uma doença tão comum hoje em dia. A gente pensa que pode com o excesso, mas acabamos entrando em conflito. No fim, acaba sendo a informação que desinforma. 

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