sábado, 21 de novembro de 2009

O comentário final





48 DO SEGUNDO TEMPO! Haja coração amigo! A sala corre contra o relógio para entregar os últimos trabalhos e ajustar os arranjos finais para os TCCs! E o jogo continua bom aqui no Estádio Comfil! Confira comigo no placar: Urbano 0, sala também 0. Com o empate o time do atual coordenador vai levando o troféu e o diploma do Max para casa, mas peraí... boa tabela na direita, a bola é tocada em profundidade para Bruno. O ala-esquerda cruza com perfeição para o matador Carlitos, que ajeita de cabeça para Max que enfim começa seu comentário final para a aula de Jornalismo Comparado II. Vamos ver se o camisa 18 consegue desempatar a partida e levar o troféu, o melhor dizendo, a aprovação para casa...

“Todo dia ela faz tudo sempre igual e levanta às seis horas da manhã”. Esses são os primeiros versos da celebre música Cotidiano de Chico Buarque de Holanda. Na canção, um dos mestres da MPB, fala sobre o dia de uma dona de casa, que o “beija com a boca de café”. Contudo o que o compositor não sabe é que a ideia de cotidiano é muito mais complexa do que se pensa e só poderia ser explicada por esse jovem boêmio com a ajuda dos amigos (cerveja por minha conta fellas!), ou como diria certo conjunto inglês: “I get by with a little help from my friends”.

Em O Cotidiano e a História, Agnes Heller afirma que “na vida cotidiana, o homem atua sobre a base da probabilidade, da possibilidade: entre suas atividades e as conseqüências delas, existe uma relação objetiva de probabilidade”. Essa afirmação é a pedra-chave para se entender a batalha diária entre a particularidade e genericidade, conceitos abordados pela autora no livro que será o mote desse comentário semi-anárquico.

O pensamento cotidiano não está livre deste conflito entre o que pertence à esfera particular de cada pessoa (o EU particular) e o que pertence à esfera do humano-genérico. Ou seja, do que está acima das questões particulares e eleva o homem a sua categoria única, seja isso bom ou ruim.

Uma de suas principais contribuições de Heller ao marxismo contemporâneo (momento desabafo: é incrível como a gente roda, roda, roda e sempre cai no Marx nos cursos da PUC...) é a confirmação do individuo no centro das reflexões acadêmicas. Vale ressaltar que o indivíduo citado aqui não é um indivíduo abstrato ou excepcional, como os alunos que entendem a matéria, mas sim o indivíduo da vida cotidiana, que tem um time de futebol, bebe cerveja e considera o trabalho uma espécie de escravidão pós-moderna. Trata-se, portanto, do indivíduo voltado para as atividades necessárias à sua sobrevivência, voltado para as questões ditas corriqueiras da vida.

A vida cotidiana é a vida de todo homem, pois não há coisa que esteja fora dela. Ou seja, a vida cotidiana nada mais é do uma caixa vazia onde cada pessoa coloca seus sentidos, suas capacidades intelectuais e manipulativas, sentimentos e paixões, idéias e ideologias.

Um exemplo que vem bem a calhar para justificar a idéia apresentada acima é comprar o cotidiano da pessoa com um Hard Disk. Pois no HD vamos ocupando-o com diversos programas (sistemas operacionais, músicas, documentos de texto e afins), enquanto também ocupamos nosso cotidiano (ideologias, paixões e etc). No final das contas são os programas ou o cotidiano que definem o potencial da maquina e da pessoa. Portanto, o indivíduo é sempre ser particular, pois tem um HD diferente, mas também é um ser genérico, pois independente dos programas instalados é sempre uma máquina. Por exemplo, as pessoas trabalham - uma atividade do gênero humano -, porém cada uma possui motivações particulares. Todos têm sentimentos e paixões -manifestações humano-genéricas -, mas os manifestamos de modo particular.

Abstraída de seus determinantes sociais, toda vida cotidiana é heterogênea e hierárquica (organizamos nosso dia-a-dia dando importância – ou não – às atividades) e espontânea (nossas ações podem ser automáticas, como comemorar um gol do seu time ou improvisação a “lá jazz”, quando você decide arriscar todo o seu pagamento em uma rodada de pôquer). As idéias necessárias para se criar a cotidianidade não se elevam ao nível da teoria, assim como a ação cotidiana não é sempre práxis. Além disso, baseia-se em juízos provisórios, para não dizer pré-conceitos e quase sempre se recorre a generalização extrema e à imitação. É nesse marco que Heller teoriza sobre o pensamento e o trabalho, a ciência e a arte, os contatos interpessoais e a personalidade de cada um.

Contudo, seja o fato de, na cotidianidade, haver o atrito entre prática e teoria que, num momento de reflexão mais aprofundada e não apenas uma opinião precária, pode-se entender a angústia que paira o ambiente acadêmico, principalmente entre os bons alunos. O que se quer dizer, na verdade é que pelo fato de a vida cotidiana exigir velocidade de pensamento, e contar com a probabilidade dos eventos, o ser que se propõe a pensar (acho que não preciso dizer aqui quem do Androceu sofre disso...), muitas vezes entre em conflito com sua própria particularidade, enfrentando dificuldades para estabelecer relações com o resto das pessoas que acordam seis horas da manhã e só querem saber do próximo jogo do time ou se há cerveja gelada em casa para quando retornar de mais um dia de trabalho. Certamente, Heller, ao dedicar-se a uma revisão do marxismo, adentrou em terrenos da condição humana que Marx sequer havia imaginado serem de tamanha importância.

E lá vai Max! Subiu, cabeceia com força e é GOOOOOOOOOOOOLLL!!! Foi, foi, foi ele! Max Fischer, o craque da camisa número 18! A torcida comemora muito e faz o estádio balançar, ou seria mais uma prova que o prédio está condenado? E é fim de partida! A torcida comemora muita o gol e canta o hit “O Max passou”. Resta saber agora se o STJD acadêmico irá ratificar o resultado da partida ou irá melar o jogo obrigando um jogo extra entre as duas equipes. Fique a seguir com um comentário descente. Até o próximo comentário, ou não!



Alunos fazem bonita festa na Comfil e gritam: "O MAX PASSOU!"

(Crédito: @nfcastro)


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