domingo, 15 de novembro de 2009

Com a enciclopédia no século XVIII e com a internet nos tempos modernos, a tentativa da criação de uma memória artificial ainda é apenas uma tentativa

No século XVIII, uma nova corrente de pensamento começou a tomar conta da Europa defendendo novas formas de conceber o mundo, a sociedade e as instituições. O chamado movimento iluminista aparece nesse período como um desdobramento de concepções desenvolvidas desde o período renascentista, quando os princípios de individualidade e razão ganharam espaço nos séculos iniciais da Idade Moderna. Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor, mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social.
Nasceu como fruto desse novo modo de enxergar o mundo o projeto da Enciclopédia francesa de 1750, dirigida por D´Alembert e Diderot, ela, segundo seus criadores e defensores, seria a ferramenta pela qual os ideias do iluminismo poderiam ser colocados em pratica, pois tinha como pretensão destruir uma memória identificada com a autoridade, os preconceitos e as supertições, para substituir por uma memória constituida pelos conhecimentos essenciais das ciências, das artes e dos oficios, determinando, assim, uma sociedade mais racional e mais uma humana.
O objetivo da Enciclopédia, que na época em que nasceu, chegou a ser reconhecida por amigos e inimigos como a síntese de um grandioso movimento intelectual era o de reunir os conhecimentos dispersos pela superficie da terra, expondo seus sitemas gerais afim de transmiti-los às sociedades futuras, fazendo com que os trabalhos de séculos que se passaram não fossem perdidos e não se torna-sem inuteis.
No entanto, alguns problemas se colocaram diante deste ambicioso projeto. O primeiro deles está relacionado ao fato de que a alteração freqüente dos conhecimentos nas ciências e nas artes teria que ser atualizada constantemente nos volumes da enciclopédia, o que levaria um tempo para ser feito e o que também causaria um considerável aumento de informação nos seus volumes. O segundo problema relaciona-se com a infinidade do mundo em que vivemos. Em um mundo infinito, o conhecimento também é infinito, como registrar em um material finito, no caso, a enciclopédia, uma quantidade de informação que não tem fim, sem ser obrigatoriamente arbitrário, selecionando aquilo que é digno ou não de ser colocado?
Desde a época em que o projeto da Enciclopédia foi formulado, esses problemas não deixaram de se agravar, o que colocou a sua eficácia cada vez mais em questão. Porém, com o avanço da tecnologia e o aparecimento das novas mídias, a solução para esses problemas parecia ter sido encontrada. A Internet passou a ser vista por alguns como a ferramenta ideal a substituir a Enciclopédia, pois, aparentemente tem as soluções para todos os problemas encontrados pela obra suprema do Iluminismo: encontra-se permanentemente atualizada, faz coexistir princípios organizativos em número praticamente ilimitado e torna disponíveis não só informação relativa às ciências, artes e ofícios, como todos os tipos e formas de informação.
A questão é que apesar de a priori parecer se encaixar perfeitamente no perfil daquilo que seria a memória artificial com a qual os iluministas provavelmente sonharam, a internet também tem os seus defeitos quando o objetivo é informar. O maior deles está relacionado à seleção de informação. Diante de um mundo de links, sites e imagens que não tem fim, como escolher em que informação confiar ou em que site entrar? O que fica claro para alguns teóricos que discutem o assunto, é que para fazer uma pesquisa na internet que esclareça, é preciso que o navegador já tenha um determinado nível de conhecimento sobre aquilo que procura, em caso contrário, ele muito provavelmente irá se perder no emaranhado da rede e o que vai encontrar não é a luz , mas mais e mais escuridão.

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