segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Internet: Terreno ardiloso

Por Camila R. Gomes (noite) - 05007862

Em recente entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, o escritor Umberto Eco afirmou acreditar que “o Google é uma tragédia para os jovens”. Segundo ele, trata-se de uma ferramenta que tenta criar ordem, tornar a infinitude compreensível.
Ao mesmo tempo em que as ferramentas de busca na internet democratizaram a publicação de informações, a busca por elas tornou-se um terreno mais ardiloso. Quando as prateleiras eram tomadas pro enciclopédias, a busca por informações tinham alguma garantia de credibilidade. Buscar dados no Google, por exemplo, pode parecer mais fácil do que percorrer a ordem alfabética das páginas das enciclopédias, mas requer habilidade. Quando uma busca digitada de forma rápida no teclado resulta em 50 páginas e um terço delas tem o mesmo conteúdo, é possível afirmar que a resposta está correta? Ou que uns sites copiaram os erros dos outros?

“Isso pode ser perigoso – não para as pessoas mais velhas como eu, que adquiriram o conhecimento de outra forma, mas para os jovens, para quem o Google é uma tragédia. É preciso ensinar a fina arte de discriminar”, afirmou Umberto Ecco.

No texto Funes, o Memorioso, de Jorge Luis Borges, a metáfora é justamente essa. Pode-se dizer que o personagem central, Irineu Funes, que tem o dom de reter todos os acontecimentos, é como os sistemas de armazenamento de informações: registra todos os fatos, mas não tem a capacidade de refletir sobre eles. É assim com as informações disponíveis nos sites de busca da internet – e também no banco de dados dos veículos de comunicação, responsável pela tão usada auto-referência no jornalismo, em que a fonte de informação torna-se a própria imprensa. Se para elaborar uma reportagem, utiliza-se matérias anteriormente publicadas, sem o esforço para relacionar fatos, encontrar novos sentidos nos acontecimentos e analisar mais amplamente a notícia, de nada servirá o texto.
Paulo Serra, no texto Informação e Sentido, discute essa concepção quantitativa da informação, ao falar sobre a explosão de informação originada pela imprensa e relembrar que “o que está em jogo fundamentalmente é a necessidade de efetuar uma seleção, uma organização e uma transmissão dos fatos que permitam o acesso a uma informação séria, interessante e credível.” A internet é o ponto culminante da sociedade do excesso da informação, em que as fatos perdem subjetividade e deixam de ter a participação do interlocutor em sua interpretação.
Nesse sentido, é possível afirmar até que a Desciclopédia, ferramenta da internet que satiriza a enciclopédia virtual Wikipédia, tem tanta importância quanto seu objeto de sátira. Isso porque a Desciclopédia, contem, na forma de fazer humor com os versículos de uma enciclopédia, uma reflexão crítica do objeto que descreve. Ou seja, não trata-se de uma informação pura e/ou imposta, mas de uma ilustração crítica do conhecimento.

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