sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Ainda temos opções

O meu trabalho de conclusão de curso (TCC) é sobre um vilarejo do interior de Minas Gerais, chamado Lapinha da Serra. Como o acesso é ruim e a estrada só abriu a cerca de dez anos atrás o vilarejo ainda possui características de um lugar que parou no tempo. A única maneira dos lapinhenses saberem o que está ocorrendo fora da Lapinha é através dos turistas ou da televisão. O rádio que não funciona muito bem, na maioria das vezes só serve para tocar música sertaneja. O povoado possui um único orelhão, que dificilmente funciona. A internet está longe de ser instalada. O jornal também não chega tampouco revistas.

As notícias que realmente interessam ao vilarejo são contadas na praça. Para se atualizar basta ir a uma das rodinhas de conversa e bater uma prosa. As “notícias” nem sempre são confiáveis, mas raramente são mal contadas. Apenas os mais novos que saem do vilarejo pra estudar na pequena cidade vizinha, ficam sabendo o que ocorre no resto do mundo sem ser pela televisão.

Os lapinhenses adquirem informação de maneira muito mais coletiva que a gente que vive em São Paulo. Essa maneira de adquirir informações individualmente também prejudicou a convivência com nossos vizinhos, que dificilmente avistamos e raramente nos comunicamos. Enquanto eles procuram a informação do dia, a gente procura a informação do minuto. Eles não selecionam a informação. Nós selecionamos tudo que lemos, pois seria impossível ler tudo que é produzido.

O maior efeito da banalização da informação talvez nem seja nossa incapacidade de selecioná-las corretamente, devido a sua quantidade infinita, mas sim sua perda de valor. No ano em que estourou o “mensalão”, a maioria dos meios de comunicação criticava o governo Lula, se falou até em impeachment, mas sua popularidade e aceitação só aumentaram.

Na Lapinha a banalização da noticia não ocorre, o que é noticiado pela manhã todos ainda se recordam a noite, isso não acontece em São Paulo. Quem lê uma notícia ao ir para o trabalho de manhã, fatalmente não vai lembrar-se do que leu ao anoitecer. Nossa memória é contrária a de Funes, no conto “Funes, o Memorioso”, de Jorge Luís Borges. Funes é dotado de uma memória infinita e nós se tratando de notícias, uma memória finita, a cada dia. Porém a memória de Funes pode ser comparada com a internet como bem percebeu Paulo Serra em seu texto “Informação e Sentido” que ainda usa outros textos de Borges para exemplificar suas teorias. Segundo Paulo Serra, quanto mais informação existe menos sentido observaremos, ou seja, a banalização da informação faz com que a mesma perca seu valor.

Obviamente fiz generalizações tanto sobre os moradores de São Paulo como os moradores da Lapinha, mas serviram em um único sentido para demonstrar o nosso passado e o nosso presente. Cabe a cada indivíduo de cada lugar decidir em que tempo viver, ou melhor, se sua memória vai ser um despejadouro de lixo ou um vertedouro de matéria prima. Mesmo vivendo em São Paulo há meios de selecionar bem o que se lê ou o que se vê, o problema é organização e vontade pra fazer isso diariamente. Porém para nós, ainda há essa possibilidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário