sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A internet e os novos valores da informação

Por Júlia Frate Bolliger (05000433)
Não é novidade que o crescimento e maior alcance da internet e das redes sociais transformou a forma de se transmitir conhecimento e informação. De fato, hoje a maioria das pesquisas é realizada em sites de busca que apresentam cada vez mais resultados. A velocidade e instantaneidade com que essas informações são obtidas são essenciais para quem escolhe esse tipo de busca. Esses fatores essenciais para o chamado conhecimento da era digital muito diferem do que era tido como valores para o saber dos tempos de conhecimento impresso.

Em O Projeto da Enciclopédia e Seus Registros Sobre o Jornalismo, o Prof. Dr. Antonio Hohlfeldt, ressalta que a razão é a forma de conhecimento. Razão essa que ganhou força com o surgimento das enciclopédias, em oposição ao saber proveniente da revelação vinda dos ensinamentos da Igreja Católica. Nos tempos atuais, tempos da internet, do Google e da Wikipédia, a razão não mais é suficiente. A velocidade é essencial. Muitas vezes a velocidade é preferida à informação.

Olga Palombo em Enciclopédia e Hipertexto compara a internet a uma versão expandida das enciclopédias. A enciclopédia, símbolo da razão e com intuito de conter o máximo de conhecimentos possíveis, era a “rede” de saber pré-digital. Palombo levanta, então, a questão de se o hipertexto, forma mais comum na internet, seria o limite ideal da enciclopédia. Sendo um sistema integrado, com abertura que promete um saber que cresce infinitamente sem limites de extensão, os hipertextos seriam sim uma expansão positiva da enciclopédia. Somado aos fatores antes mencionados da velocidade e da instantaneidade, seria essa uma ferramenta extremamente poderosa do conhecimento atual.

Além das qualidades já mencionadas, a internet possibilita a democratização do conhecimento, a construção de um saber coletivo. Peguemos o exemplo da Wikipédia, enciclopédia online em que qualquer um pode alterar ou adicionar conteúdo. O leitor que porventura encontrar alguma informação equivocada pode corrigi-la. Lembro de certa vez que minha irmã procurou a palavra “Brasil” na Wikipédia francesa. Lá dizia que, em nosso país, falávamos três línguas: o português, o tupi-guarani e, nas regiões fronteiriças, o “portugnol”. Pois ela deletou essa “terceira” língua não correspondente à realidade. Essa democratização do conhecimento permite a participação ativa do pesquisador, tornando-o também produtor de informação e fazendo dessas infinitas enciclopédias onlines unidades inacabadas, sempre em transição. Analisando por esse lado, é perfeitamente cabível que as unidades de conhecimento sejam mutáveis, visto que o próprio conhecimento também não é algo sólido, mas sim algo que pode mudar, adaptar-se inovar-se.

Por outro lado, se pensarmos na informação equivocada que minha irmã encontrou, fica claro que, até o dia em que ela a alterou, milhares de pessoas provavelmente já a haviam lido. Sendo assim, essa liberdade de produção de conhecimento gera também a perda da credibilidade na informação online e a necessidade de um senso crítico apurado por parte daquele que usa esse meio de pesquisa.

Olga Palombo ressalta que essa condição ilimitada de informações interconectadas gera também “a desorientação, a sobrecarga, a banalização e a indiferenciação dos conteúdos vinculados”. As enciclopédias impressas selecionam seu conteúdo, o que não acontece na internet, gerando esse problema na credibilidade do material. Dessa forma, o material consultado só cumpre sua função de passar conhecimento à medida que quem pesquisa tenha senso crítico para determinar a veracidade da informação que está lendo. Caso contrário, pode acabar servindo para desinformar. Inclusive, Paulo Serra ressalta em Informação e Sentido, que o excesso de informação conduz ao decrécimo de conhecimento. A informação abundante da rede, muitas vezes, perde completamente seu sentido. Textos mal escritos, informações que se contradizem, tudo isso é extremamente recorrente.

Não escapa dessa discussão o jornalismo online, que cresce ferozmente a cada ano. Grandes jornais, inclusive, fazem campanhas para que seus leitores passem a assinar suas versões digitais e portais tomam o espaço de maiores noticiadores. Como o que rege a informação é a instantaneidade, muitas vezes ela é preferida à precisão do que é dito. Principalmente pelo fato de que o texto na internet é eternamente editável, diferente do impresso no papel. Assim, muitos jornalistas se eximem da responsabilidade de estarem escrevendo algo perpétuo e existe aí a tendência de surgirem “informações desinformantes”, passíveis sim de correção, mas que podem chegar aos olhos de milhares de leitores, assim como o portugnol da Wikipédia francesa.

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