quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um mal de todos

Globalização. Telecomunicações em ritmo alucinante. Fim das barreiras políticas, territoriais e temporais. O que prometia ser a grande revolução do terceiro milênio mostrou-se uma rede frágil capaz de ruir em um instante e levar o mundo de volta ao primitivismo do passado.

Exagero? Em pouco mais de seis meses, economias dos quatro cantos do planeta atingiram o fundo do poço. Uma reação em cadeia que teve início na sempre acima de qualquer suspeita classe média. Das hipotecas norte-americanas, a crise varreu os mercados sólidos da Europa e, claro, agora afeta também o Brasil.

Apesar dos esforços do governo para convencer a população do contrário, as demissões em massa já são uma realidade concreta, e até mercados que pareciam imunes à depressão passam por sérias dificuldades. É o caso das cooperativas de reciclagem. Iniciativa aplaudida como forma de inclusão daqueles que estavam completamente marginalizados do corpo social e fadados à miséria completa, as cooperativas não encontram mais compradores para suas mercadorias e lutam para não fechar suas portas. Sim, somos potência. Temos os mesmos problemas dos grandes. Somos perdedores globais. Aceitamos as condições impostas pela nova ordem mundial, e chegou a hora de pagar por esta escolha.

Segundo Roberto Kurz, esta nova ordem inclui um sistema de crédito completamente emancipado do controle exercido pelos bancos nacionais e uma versão revista da linha de montagem. A produção fragmentada deixa de se limitar ao espaço da fábrica. A fábrica de hoje é o mundo. Cada país representa uma unidade da produção, uma peça na engrenagem da máquina chamada globalização.

O cenário atual é curioso. O Estado esvaziou-se de sentido. Uma vez que as negociações e os fluxos financeiros são feitos entre corporações, ignorando completamente a legislação ou as próprias limitações territoriais e políticas dos países em que estas empresas estão sediadas, o Estado não tem mais razão de existir. Ele é, a partir de agora, uma grande alegoria, que dá a falsa sensação de segurança e controle aos cidadãos comuns. Os mesmos cidadãos que enxergam a crise como algo distante, limitado ao restrito círculo corporativo, e que não conseguem relacionar os efeitos da desaceleração da economia com sua vida cotidiana, nas compras do supermercado, na dificuldade de conseguir um emprego.

Parece inadmissível conceber que o Estado intervenha nas empresas para uma tentativa última e desesperada de salvar um mercado em potencial. O governo, seja de qual país for, não tem o direito de palpitar em questões privadas, resolvidas entre as quatro paredes da sala de reuniões da empresa. O fantasma do socialismo está mais vivo do que nunca. E sua reaparição aconteceu no lugar mais impensável, o berço do capitalismo, os Estados Unidos.

Em um mundo em que o capital é especulativo, não mais um patrimônio nacional, inaugura-se a era da política econômica, das negociatas irresponsáveis guiadas pela já cansada mão invisível do mercado. Ela nos trouxe até aqui. Até onde mais iremos chegar?

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