segunda-feira, 27 de abril de 2009

A ciência em crise

Adorno e Horkheimer questionam a total eficácia da racionalidade em “A dialética do esclarecimento”. Há uma elaboração crítica sobre o positivismo e determinismo advindos do pensamento iluminista que ao longo dos anos desconsiderou uma importante constatação, de que a história também se faz de episódios e ideais contraditórios.
O que possivelmente parece generalizado ou radical neste texto está ligado ao que mais se destaca em “Perdedores Globais” de Robert Kurz. Sua atualidade, clareza e referência histórica são indiscutíveis, no entanto, ao identificar a crise na ciência econômica, Kurz retoma a noção de progresso como aquele que emancipa e regula o homem, constrói e enfraquece um sistema, traz a cegueira no auge do esclarecimento e nos remete à análise de uma sociedade global contraditória, ao mesmo tempo pautada pela razão e pela falta da expansão de uma nova crítica social. Do racionalismo e seu império, também surgiram novas formas de aniquilação.
Kurz cita Kant, as promessas da era moderna, dos movimentos socialistas, de organizações e pensamentos filosóficos. Traz a reflexão maior de seu texto, que não se restringe à economia, mas aos efeitos do caos, abarca conflitos gerados por uma sociedade e mercado que deixou de priorizar o nacional, que interliga e intercionaliza tudo, gera tecnologias, busca mão-de-obra barata, altas taxas de lucro, poucos impostos, “leis generosas” e ações limitadas do Estado, ainda que dependa de seus recursos para circular e se manter.
Entre Kurz e os primeiros autores citados está a ligação de ciências que não acompanharam suas próprias transformações. Hoje a ciência econômica se encontra em crise e parece não ser discutida por sínteses ou inovações de pensamento. Como Kurz afirma, a “economia mundial” ainda não é parte do currículo universitário e é justamente este conceito que nos envolve, que concentra capital, que faz de todos perdedores e não somente os periféricos.
É interessante observar o nivelamento das perdas como o autor sugere, entre paises ricos e pobres, cidades e proporções de favelas contrastando com “ilhas de desenvolvimento”. Há uma dificuldade em administrar soluções para a crise mundial diante de pensamentos ainda baseados na economia clássica e liberal.
Os conceitos da ciência econômica não correspondem mais à realidade, conturbada, global e atingida por prejuízos que fluem junto aos capitais, créditos, ações, tecnologias e produções, por todos os lugares.
Certamente que do racionalismo surgiu a possibilidade de crítica, mas a partir desta já consolidada, o processo de novas ideias ou até mesmo a reutilização de outras em busca de originalidade parece não existir. Para a solução de problemas tão expressivos como a crise econômica mundial, seria interessante contextualizar, à maneira de Kurz, os meios históricos e as transformações em que um país passou a se estender pelo mundo como empresa.
O autor está correto em dizer que uma economia global é incapaz de sobreviver sempre baseada em uma minoria restrita e, naturalmente, por sua própria origem e manutenção, alcança o esgotamento, a quebra, a crise. No entanto, o momento fragilizado, de perdas para alguns, também é de ganho para outros que concentram ainda mais e reiteram a lógica do mercado: o acúmulo de capital.
A boa análise de “Perdedores Globais”, anterior ao estopim do atual desemprego excessivo, estimula a reflexão de que a crise não está só na economia, mas na maneira de pensar, agir em uma sociedade tão técnica e movida por avanços de grandes corporações. É uma forma de compreender o que vem de anos e o que se espera superar antes de conseqüências cada vez mais desastrosas, da política ao movimento social.

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