terça-feira, 14 de abril de 2009

Por uma crítica contemporânea

por Diogo Antonio Rodriguez

De que a "ciência econômica encontra-se numa profunda crise" é difícil discordar. Os modelos liberais e neoliberais não foram capazes de municiar seus experts com um instrumental suficiente para amenizar as crises. Tanto os modelos quanto os efeitos práticos dessas teorias vindas do século XIX não foram capazes de prever a magnitude das mudanças ocorridas.

A configuração dos estados-nação é ponto inicial e importante. Como aplicar à realidade conceitos que não previam uma mudança na idéia de soberania? A idéia da constituição de blocos supra-nacionais com parlamentos próprios iria parecer uma piada para os teóricos da democracia, afinal a soberania é territorial e diz respeito a um grupo de iguais que erige o Estado sobre um consenso. Logicamente se segue que a economia não poderia regular tampouco ser regulada fora dos limites dessa soberania rousseauniana. Afinal, para o teórico francês, o simples ato de eleger representantes consiste já em transferência de soberania do povo para o Estado.

As idéias sobre a economia e a política vão passar, se já não estiverem nesse processo, por uma necessária revisão. Acreditava-se na livre regulamentação de mercados, isso não deu certo. Acreditou-se no modelo americano de democracia representativa, que não serviu como modelo universal. Esse é um momento de grave revisão teórica. Robert Kurz em seu "Perdedores Globais" dá um diagnóstico que tantos outros também vêm apontando - Zygmunt Baumann, Giles Deleuze, Alain Tourant e Nádia Urbinati são outros exemplos. Esgotaram-se as explicações, a hora é de avaliação e reconstrução.

Porém, se é importante manter os pés no chão e encarar a dureza de que são feitos os fatos, é essencial a tentativa de afirmar. "Nos dias de hoje, parece que a filosofia capitulou definitivamente ate à barbárie do mercado total", Robert Kurz afirma em tom de profecia. Só se pode dizer que a filosofia capitulou se assim o fizerem os filósofos. Parece que isso está longe de acontecer ainda, apesar do pessimismo geral.

Capitularemos todos se insistirmos em continuar a tentar olhar para o mundo contemporâneo sob as luzes (por que não Luzes?) de tempos passados. Neoliberais e uma insinuante onda de neomarxistas devem se conter e perceber toda a limitação que tem o instrumental teórico que herdamos. Nem Smith, nem Marx. A Teoria Crítica já iluminou de maneira satisfatória o caminho a ser seguido: "Marx mostrou que todo resultado teórico está ancorado em contextos históricos determinados" (Marcos Nobre, "Modelos de Teoria Crítica", in Curso Livre de Teoria Crítica. Papirus, 2008).

Ainda que não seja possível apontar um caminho correto a ser seguido para pensar a crise e o capitalismo, pode ser útil pensar nos modelos dessa teoria, a fim de não incorrermos no erro de Kurz, que é o de se limitar a dizer como as coisas funcionam sem "analisar o funcionamento concreto das coisas à luz de uma emancipação ao mesmo tempo concretamente possível e bloqueada pelas relações sociais vigentes" (Ibid.). Que sejamos capazes de honrar nossa herança e ao mesmo tempo superar suas limitações e que saibamos olhar e viver o nosso tempo.

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