terça-feira, 14 de abril de 2009

Fragilidade global

Há algumas décadas vem se falando da globalização, dos benefícios da derrubada dos limites das fronteiras nacionais e do brilhante avanço da economia pelo mundo. Fala-se da evolução das multinacionais investirem nos países de terceiro mundo e do desenvolvimento que isso pode causar. O que era chamado de comércio externo até meados do século XX, passou a ser a economia dominante do mundo contemporâneo, impulsionada pelo desenvolvimento da tecnologia, a formação de um mercado único global passou a dominar as relações econômicas mundiais.

O texto de Roberto Kutz, Perdedores Globais, porém, alerta para a incoerência da situação política e dessa realidade globalizada. Lembra que a ciência econômica está ultrapassada e ainda explora a economia nacional que, em tempos de capital global, deu lugar à economia empresarial. O texto nos faz pensar se a idéia de nação ainda se faz valer, visto que o capital passou a agir sozinho, deixando para trás a competência do Estado.

De acordo com as intenções das empresas particulares “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”, a produção e distribuição se fragmentou e espalhou-se pelo mundo. A empresa pode ser de uma determinada nacionalidade, porém montar seu produto em outro país, expedí-lo por outro território e vendê-lo por alguns mais. O único beneficiário dessa fragmentação é a própria empresa responsável, o desemprego cresce e a força de trabalho é desvalorizada em todo o mundo.

O benefício do lucro maior adquirido pela empresa, porém, não passa a integrar o estoque do capital nacional e sim se internacionaliza, é propriedade particular que atua no mercado mundial. Assim, o desenvolvimento econômico nacional fica para trás, a realidade da nação passa a ser a privatização de seus investimentos estatais para sanar dívidas, o que acarreta em maior perda da competência do Estado. Os produtos não mais se originam de determinados países, levam o nome apenas da empresa que, junto ao seu capital avançam sem limites, deixando o Estado restrito às fronteiras territoriais.

Dessa forma, monta-se uma economia global particular para poucos, na qual a maioria passa a ser de perdedores globais, de pessoas que perderam seus empregos ou passaram a ganhar salários mais baixos e trabalhar mais. Se constrói, assim, um nivelamento ente as riquezas dos países, porém para baixo e formam-se pequenas ilhas de riqueza ao redor do mundo. O texto ainda alerta para o fato dessa realidade econômica estar fadada ao fracasso.

Roberto Kutz afirma que essa economia global limitada a uma minoria cada vez mais restrita é incapaz de sobreviver e aponta para outra grande incoerência desse sistema: ao mesmo tempo em que o capital escapa das mãos do Estado e diminui as receitas públicas, enriquecendo as multinacionais, esse capital globalizado depende cada vez mais da estrutura provida pelo Estado. A produção multinacional depende dos portos, aeroportos, estradas, sistemas de comunicação etc, que são organizados pelo poder estatal e tendem serem deixados de lado pela precariedade da situação do poder nacional.

Assim sendo, o avanço desenfreado do capital global sabota seu próprio funcionamento e a falta de crítica à globalização cria um mundo dividido entre a minoria beneficiada e os excluídos que demandam pela volta da soberania nacional, seja ela por motivos religiosos ou separatistas. Forma-se um mundo frágil, formado por exclusões que pode entrar em colapso a qualquer momento.

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