quarta-feira, 8 de abril de 2009

Não há vencedor

Por Fernanda Catania

A primeira vista, o conceito de globalização parece ser maravilhoso. Imagine poder comprar produtos que os japoneses produzem e consomem, ainda mais por um preço camarada? Ou ainda, poder ouvir as músicas e ler as notícias produzidas na Europa? Os benefícios individuais que a globalização proporciona de fato são reais. Mas, até que ponto esse mercado global realmente beneficia as pessoas? Ou ainda, os países, principalmente emergentes?

No texto Os perdedores globais, o autor Robert Kurz exemplifica o processo de globalização do capital por meio da difusão de fábricas de montagem japonesas na Europa e América Latina, cuja função é a montagem de componentes semiprontos com o mínimo de recursos locais.

Nessa lógica, um produtor pode comprar matéria-prima em qualquer lugar do mundo, onde os preços sejam mais lucrativos, implantar uma unidade produtiva, onde a mão-de-obra é mais qualificada e barata e as vantagens fiscais e infra-estruturas oferecidas pelos governos sejam compensatórias, para, depois, efetuar a comercialização da mercadoria para diversas partes do mundo. Parece incrível!

Kurz afirma que não existe mais a fidelidade das empresas com o desenvolvimento da economia nacional. E que a consolidação de uma economia globalizada resulta na perda do controle do capital pelo Estado, ou seja, o capital das empresas passa a não integrar mais o estoque de capital nacional, já que aquele se internacionaliza progressivamente.

Assim, o movimento migratório das grandes multinacionais para países de terceiro mundo é cada vez maior. As vantagens oferecidas em países subdesenvolvidos, em que as leis trabalhistas e ambientais são fracas e a remuneração da mão de obra é miserável, fazem com que haja uma globalização do capital.

Desse modo, os estados, devido à falta de recursos financeiros, abandonam a população na pobreza e miséria, retirando-lhe o direito à cidadania. Essa situação, segundo o autor, torna-se insustentável: “a globalização de uma economia da minoria tem como conseqüência direta a guerra civil mundial, em todos os países e em todas as cidades”.

O texto de Kurz se torna extremamente atual, já que o autor antecipou uma profunda crise econômica: “num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em casa cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade”.

Mas, diante disso, as autoridades buscam apenas manter a (des)ordem, através do controle militar sobre a “miséria e a barbárie” acarretada pelos perdedores globais. Inicia-se assim, segundo o autor, uma nova guerra. O futuro próximo de Kurz parece já ter chegado.

Sim, os excluídos dos benefícios da globalização são os perdedores globais. Mas, como classificar os EUA, então?! O que dizer do tão desejado american way of life, que agora se desmorona em meio a uma crise não vista há muito tempo? Os inabaláveis estão abalados. Sim, eles também são perdedores globais. E enquanto a lógica de mercado continuar sendo essa, todos serão perdedores. A esperança dos EUA talvez esteja no Obama, atual presidente. Mas essa é a outra questão levantada por Kurz.

A economia privada se expande, mas o Estado continua restrito às fronteiras territoriais. “O Estado é cada vez menos o capitalista ideal”, portanto, a maioria das indústrias estatais são desativadas ou privatizadas por não renderem lucro de acordo com o padrão global. Este talvez seja o ponto mais interessante da reflexão de Kurz.

O Estado, que antes tinha autoridade sobre o mercado econômico, agora segue as regras do próprio mercado. De acordo com essa análise, percebe-se que, enquanto os mercados pensarem com a antiga lógica e não se atualizarem, não sairemos do mesmo ciclo vicioso.

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