terça-feira, 21 de abril de 2009

Somos Todos Perdedores

Negociações que não respeitam mais as barreiras geográficas e temporais. Exportações de capitais e criação de filias em países subdesenvolvidos para diminuir custos de produção. Esta é a ordem vigente: globalização dos mercados, do dinheiro, do trabalho.

No texto Perdedores Globais, o autor Roberto Kurz nos faz um alerta: a ciência econômica encontra-se numa profunda crise. Crise que existe porque a economia nacional foi substituída pela globalização, mas tanto a política quanto a ciência econômica permaneceram atreladas a seus velhos conceitos e teorias.

O cenário mudou de forma drástica quando a exportação de mercadorias foi incrementada pela exportação do capital. Investe-se em todo o globo, mas o capital deixa de integrar o estoque nacional. Ele se internacionalizou e não visa mais o desenvolvimento do país como um todo, apenas o lucro dos proprietários das multinacionais.

Estamos num beco sem saída. O Estado que, em tese, deve prezar pela vida digna de sua população, não pode interferir no mercado nem assegurar os direitos dos trabalhadores, porque, se o fizer, perderá capital das empresas. Restrito às fronteiras territoriais e políticas, o Estado ainda precisa atrair capital com a redução de impostos, mão de obra barata e outras regalias e com isso, como diz Kurz, é cada vez menos o “capitalista ideal”. É neste sentido que as empresas procuram “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”.

Contudo, a concorrência global exige que as empresas estejam sempre em busca de custos mais baixos e maiores vendas. Inicia-se um ciclo sem fim: o mercado tem que expandir-se por todo o mundo, mas quanto maior os investimentos em tecnologia avançada e racionalização das linhas de produção, maior é o desemprego, menor o valor da força de trabalho e, consequentemente, o poder de compra. Dessa forma, os países “perdedores globais”, como, por exemplo, o Brasil e a China, são utilizados como fornecedores de recursos naturais e mão de obra baratos, para que os custos de produção sejam menores e o lucro maior.

Todavia, Roberto Kurz aponta para uma incongruência no sistema financeiro global. Ao mesmo tempo em que o Estado não tem o controle do capital globalizado e se torna refém do mercado, esse capital depende mais do que nunca da estrutura promovida pelo Estado (portos, aeroportos, estradas, escolas, universidade, etc.). Assim, o capital globalizado cava a sua própria sepultura, pois tira o poder de ação do Estado, mas precisa dele para sua máquina rodar. Uma estrutura que não pode resistir por muito tempo.

Como era de se esperar, vivemos uma crise financeira, mais uma do capitalismo, em que somos todos perdedores. O Estado, tentando evitar perdas maiores, busca ajudar e salvar as multinacionais oferecendo pacotes econômicos de estímulo, para que as empresas permaneçam em seu território e porque, se elas fecharem, a economia da nação ruiria. Mas e os pobres que perderam seu trabalho, seu sustento, sua casa, sua dignidade? O que é feito para eles? Quem são os verdadeiros perdedores globais? Aqueles que são ajudados pelo Estado ou os que são, mais uma vez, jogados a sua própria sorte?

A promessa do século se tornou um fracasso. A economia global é limitada a uma minoria cada vez mais restrita, enquanto do outro lado encontra-se a maioria, os perdedores globais, pessoas que perderam seus empregos, que são explorados por humilhantes salários. Como Kurz diz, “num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em cada cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade”. Nesse sentido, os Estados, devido à falta de recursos financeiros, abandonam à sua própria sorte uma parcela cada vez maior da população, roubando-lhe o direito à cidadania (como os direitos básicos: saúde, educação, alimentação), e mobilizam conjuntamente uma “polícia mundial” contra os perdedores globais, a fim de garantir condições sociais condizentes com as ilhas de riqueza.

O futuro próximo que Kurz se refere chegou há tempos. As favelas não param de crescer, o número de pobres e miseráveis no mundo só aumenta e a riqueza está cada vez mais centralizada nas mãos de poucos. A globalização trouxe benefícios, como a compra e venda de produtos em escala mundial e as comunicações, mas acentuou a linha divisória entre riqueza e pobreza e, em vez de distribuir a riqueza entre todos, a cada dia faz aumentar o número de perdedores globais. E a crítica? Está atrelada a velhos conceitos e teorias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário