quarta-feira, 8 de abril de 2009

Todos por um

Comentário de André Cintra sobre o texto Perdedores Globais, de Roberto Kurz.

O texto Perdedores Globais, de Roberto Kurz, é, antes de mais nada, uma grande atualização conceitual. De forma didática, o autor desfaz conceitos consagrados e apresenta novos com tanta naturalidade, que ao final do texto o leitor pensa: "Como eu não tinha vergonha por pensar daquela forma ultrapassada e vulgar?!".

Roberto inicia o texto questionando a atual ciência econômica com uma constatação chocante: A atual ciência econômica não é atual. Ou melhor: Não corresponde à atualidade.

Repare na contradição. Em tempos de globalização, ela é uma disciplina vista a partir da Economia Nacional, tendo o mercado mundial apenas como um detalhe, uma fatia. Ora, hoje, o mercado é global. O mais sensato, pois, seria inverter, e estudar o mercado global, tendo a economia nacional, esta sim, como um detalhe.

O chocante não é a constatação, mas as conseqüências dela. Pois pense. Tendo em vista que o mercado é global, a concorrência passa a ser impalpável. Agora, não são os países, com seus mercados nacionais, que ditam as regras; são as empresas, pois elas têm o privilégio de escolher onde empregar seu precioso capital.

Ou seja. Se antes o Estado – feito para o benefício das pessoas – comandava as ações de mercado, agora são as empresas – feitas para o benefício dos donos. Se antes os Estados podiam impor regras e limites, agora não podem mais, porque se o fizerem, certamente perderão capital, porque há quem não o faça. A concorrência de hoje ocorre diante do seguinte dilema: ou ser explorado ou não ter capital nenhum.

O mercado global, através da livre circulação do capital, dá às empresas um poder irrestrito. O autor cita a revista alemã Wirtschafiswoche, que dá uma definição lapidar sobre o que as empresas vêm fazendo: “Produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”.

É por isso que nos dias atuais não há mais tanto valor à marca de qualidade de um país. Que importância tem um produto que é feito na Alemanha, se a marca não é conhecida? Um Mercedes made in China, é, hoje, muito melhor conceituado que um Gurgel feito na Alemanha.

O perigoso é que a economia privada se tornou incomensuravelmente mais ágil e poderosa que os Estados. O Estado, assim, perde muito de seu papel. Refém, ao tentar fazer o que é correto e de direito, corre sempre o risco de ser abandonado pelas empresas. Se um Estado buscar desenvolvimento, educação, saúde, e para isso precisar impor limites às empresas, ele não terá mais empresas nem capital.

É este o mercado atual, da globalização, em que todos se integram pela minoria.

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