terça-feira, 7 de abril de 2009

Existem vencedores globais?

O título do texto já começa a explicar quem somos: “perdedores globais”. O autor, Robert Kurz, explica que a crise existe porque a economia nacional foi substituída pela palavra da moda: globalização.

Fato: o mercado externo sempre existiu. Porém, a partir da década de 1980, um mercado único e global ganhou proporções bem maiores. A tecnologia permite que qualquer coisa possa ser negociada, a qualquer momento e em qualquer parte do planeta.

O exemplo óbvio que vem à mente é o mercado de ações. Capital virtual salta de país em país durante as 24 horas do dia. Ele não tem parada, as fronteiras foram derrubadas. Qualquer um que esteja conectado à rede mundial de computadores pode transferir dinheiro para qualquer lugar do planeta.

Mas a situação pode ser mais concreta que isso. É o que Kurz chama de “uma nova divisão de trabalho dentro das próprias empresas multinacionais”. Empresas de países de capital orgânico superior vão até os de capital orgânico inferior (e, em alguns casos, intermediário), que passam a servir de linha de montagem: a única função é agrupar os componentes já prontos.

Por esse motivo, o mercado também passou a ser global. Nos países altamente tecnológicos, o desemprego aumenta e, com isso, o poder de compra nacional diminui. Logo, para escoar a produção, é necessário que exista uma superpopulação relativa de consumo. Ou seja, países que tenham certo poder de compra.

Como escolher os países que receberão as multinacionais? Para Kurz, a resposta é simples: aqueles que os salários são baixos (menor poder de compra), as leis são generosas (possibilidade de testes de remédios) e os impostos são menores (pessoas físicas pagam mais que as jurídicas).

A dualidade capital interno x capital externo não existe mais. A briga contra o imperialismo e a favor da economia nacional cai. O que existem são sócios majoritários e minoritários. Nenhum capital é inteiramente de um único país. Se a empresa está no Brasil, ela é brasileira, ainda que sejamos dependentes do capital superior.

Sim, somos dependentes. Com essa facilidade de alocar empresas por aqui, o país embarcou no pensamento “se posso comprar tecnologia, por que desenvolvê-la?”.

O resultado disso tudo? Diminuição de empregos, já que com a racionalização, alguns setores se extinguem. A partir daí é que se justifica o título do texto. Perdemos.

Uma massa de excluídos faz com que o poder de compra também diminua, o que gera violência organizada. No Brasil, isso é evidente através do processo de mimetismo social, em que há uma espécie de camuflagem da pobreza através de gastos além do possível. As empresas, obviamente, adoram essa situação, porque podem investir ainda mais em criação de crédito.

Portanto, os gastos com a segurança crescem como nunca antes. O poder econômico na mão de poucos faz com que uma polícia mundial surja para tentar acalmar os ânimos dos movimentos militantes vindos dos tais “perdedores globais”.

Então, o que fazer? Evidentemente que voltar ao que era antes é impossível, apesar da política dos Estados nacionais ainda existirem. Em alguns lugares, movimentos como as ONGs são apontados como essenciais para ajudar o homem. Porém, elas não têm recursos suficientes e acabam tornando-se mais assistencialistas do que críticas. Elas só percebem o lado negativo e querem derrubar sistema, mas não são capazes de analisá-lo como um todo para encontrar uma solução para os problemas já postos.

Se existem perdedores, será que existem vencedores globais também? Na aparência, sim. Porém, quando só se fala de crise (e pior, recessão), todos saem perdendo, mas quase ninguém percebe isso. O motivo? O próprio Kurz responde: falta crítica social, em especial nas universidades. E isso é essencial para que a tal palavra da moda realmente signifique o que pretende.

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