quinta-feira, 9 de abril de 2009

Sejam bem-vindos à nova era de aquarius

Por Marina Dias
A idéia de nação soberana vem se esfacelando a cada dia. Mesmo que existam grupos extremistas e alguns líderes de Estado que ainda defendam o nacionalismo incondicional, sabemos que a partir do início do século XX a constituição de nação soberana, dotada de sistemas jurídicos nacionais e infra-estrutura própria, começou a desaparecer.
É interessante notar que falar de globalização se tornou praticamente um lugar comum. A impressão que se tem é a de que todos já sabem que as economias mundiais estão interligadas e que você pode se comunicar com o resto do mundo por meio das novas tecnologias de comunicação. A palavra de ordem hoje em dia é esta: globalização – globalização dos mercados, do dinheiro, da cultura e do trabalho.
Entre as grandes mudanças da nova era econômica, uma das mais importantes foi o fato da exportação de mercadoria ter sido incrementada pela exportação de capital. Isso quer dizer que, com o surgimento das empresas multinacionais, os investimentos de uma mesma companhia passaram a ser feitos maciçamente em vários países do mundo. Dessa forma, a empresa automobilística Ford, por exemplo, não apenas exportou automóveis dos Estados Unidos para a Alemanha, mas também construiu nesse país uma fábrica para suprir a demanda do mercado alemão.
Toda essa modificação só foi possível com a dinâmica do mercado que, com uma rapidez impressionante, incorporou as novas tecnologias, como os satélites, a microeletrônica, e as novidades tanto nas comunicações como nos transportes.
O que é mais intrigante é que a formação desse mercado único e global aconteceu quase que de forma descolada do resto da sociedade. Por mais que ele incorpore as transformações sociais, as pessoas ainda não conseguem acompanhar esse tipo de mercado. Neste caso, tanto a política quando a ciência econômica permaneceu apegada aos velhos conceitos e teorias, e o estudo da economia mundial ainda não faz parte da maioria dos cursos universitários de maneira mais aprofundada.
Essas confusões e atrasos, porém, são, de certa forma, compreensíveis, já que a idéia de capital é cada vez mais volátil – literalmente– e as pessoas acabam perdendo a noção de identidade da produção. Um carro pode ser americano, mas suas peças podem ser produzidas na China, montadas no Japão e o produto pode ser expedido no Brasil.
E por que isso acontece? De acordo com uma revista alemã, o mercado global deve “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são mais generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”. Assim, quanto maiores os investimentos em tecnologia avançada, maior é o desemprego e menor é o valor da força de trabalho e do poder de compra nacional.
Bem-vindos ao capitalismo selvagem, um cenário no qual muitos ainda são perdedores. Perdedores globais. Países assolados pela pobreza, sem nenhum tipo de desenvolvimento de tecnologia própria, cuja população não pode mais ser utilizada como mão-de-obra. Assim como o conceito de Estado nacional, as antigas “zonas de influência” já não existem mais.
Esses países podem não estar ou não se sentir inseridos no atual mercado mundial, mas são suas reações desesperadas que desencadeiam a crise do novo sistema. Eles perderam seus empregos, economizam para comprar o necessário para fazer uma refeição por dia. Perderam sua dignidade e já não dormem mais direito. Esses sim são os perdedores globais.
Do outro lado, daquele dos que se dizem perdedores, os custos da segurança crescem em proporções astronômicas. Os antigos países imperialistas não podem mais declarar guerra uns aos outros, mas são obrigados a mobilizar conjuntamente um “polícia mundial” contra os efetivos perdedores globais. Quanta hipocrisia.
A globalização de dinheiro, comunicação, cultura e mercadoria é vantajosa para muitos, e garantir a interligação de países tão distantes e distintos pode ser satisfatória para outros. Mas é improvável que, num mundo onde tudo se reflete alguns quilômetros adiante, as perdas também não sejam globais. Bem-vindos à crise econômica mundial. Agora é hora de agir.

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