terça-feira, 28 de abril de 2009

Todos são perdedores

Robert Kurz faz um panorama geral da economia mundial nos últimos cinco séculos e mostra suas modificações estruturais no ensaio “Perdedores globais”. Fica muito claro que o desenvolvimento do mercado e as noções acerca dele estão na origem do caos em que estamos inseridos.

A idéia do autor não é detalhar minuciosamente as variações nas formas de produção, as alternâncias entre as maiores potências mundiais ou as conseqüências sociais do capitalismo. Mas sim destacar que não há apenas um vilão no contexto mundial e a implicação é que todos acabam sofrendo com tal situação.

Um solução? As ONGs e associações aparecem como alternativas interessantes; elas provam que existem deficiências governamentais, porém não são capazes de questionar o sistema econômico.

Aí entram os estudiosos e economistas, que não podem se conformar e aceitar que o sistema se auto-regule, que a cidadania seja desrespeitada, que a concorrência seja cada vez mais desleal, que existam barreiras protecionistas, etc. O pensamento crítico deve acompanhar as mudanças estruturais e deve ser renovado. Kurz vai além e diz que a crítica social deve ser globalizada.

Globalização é também a palavra de ordem da atualidade. O texto foi escrito há mais de 10 anos, mas continua atual em seus conceitos. Logicamente que não está “adequado” à crise econômica que o mundo enfrente desde o final de 2008, mas muitos fatores desta crise das economias americana e européia – de modo geral – são antevistos no ensaio.

A microeletrônica possibilitou um mercado único global, refletindo e sendo refletido nas empresas multinacionais, que não têm qualquer apego a país ou cidade: o lucro é a única coisa que importa. Neste contexto há a nova divisão social do trabalho, a mais-valia e as privatizações.

Robert Kurz faz muitos apontamentos, algumas afirmações e outras especulações. Mas ele é bastante contundente ao dizer que uma economia voltada à minoria não é capaz de progredir, já que o raio de ação do sistema ficou restrito. Um reflexo desse universo circunscrito são as “guerras civis mundiais”, que estão acontecendo ao redor do mundo.

O que não pode perdurar é a frase pronta: o capitalismo tem crises cíclicas e elas continuarão ocorrendo enquanto o sistema estiver em evidência. Há muita verdade nessa afirmação, já que o sistema econômico mundial passa por crises. Alguns países freqüentam o limiar da crise com mais assiduidade – como é o caso do Brasil e dos países de terceiro mundo – porém dessa vez temos um cenário diferente: as grandes nações estão em choque.

O socialismo, o comunismo ou o anarquismo não devem ganhar força. As ações sociais devem se fortalecer e enxergo os desdobramentos da crise de uma maneira diferente do autor, porém existe a noção de que a consciência da população deve ser maior e, conseqüentemente, sua participação.

Se o governo não propiciar tal diálogo os enfrentamentos devem ser mais agudos, mas havendo cooperação entre as partes, a tendência é acreditar num futuro mais moderado economicamente. O bem-estar da população está atrelado às mudanças que estão por vir. A torcida converge para que o sistema atual seja amplamente questionado e novos paradigmas possam entrar em vigor.

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