terça-feira, 28 de abril de 2009

Perdas particulares, sintomas globais

Um motoboy morreu na Marginal Tietê no dia primeiro de abril. O acidente aconteceu por volta das 8 horas. Às 14 horas e 30 minutos, o corpo do homem ainda estava na pista, a família aguardando a presença da perícia para ele ser retirado.

Não sabemos o que ele estava transportando. Importante para os jornais era a morte do motoboy; para a empresa, era o produto não entregue. E esteja certo que o atraso do IML para recolher o corpo do homem certamente não causou tanta repercussão quanto o atraso do produto não entregue.

Os motoboys andam sempre com muita pressa. A vida de muitos dependem do sucesso do trabalho deles; mas valeria mesmo a pena arriscar as vidas deles pelas dos outros?

O fato é que, neste momento, outro deve estar ocupando o lugar do motoboy. Isso é inevitável em um mundo onde a rotatividade de empregos é alta. Ficar pouco tempo em um trabalho não deve mais afetar de forma negativa o currículo de alguém que queira lutar por uma vaga neste mercado que tem vontade própria.

A fidelidade a alguma empresa - que antigamente poderia ser superior até à fidelidade conjugal - hoje está fora de moda. Veja que provavelmente já há outra pessoa trabalhando no lugar daquele homem. Porque capital circula sem faróis vermelhos ou amarelos, sem esquina que os mate.

É isso que o motoboy tem que aceitar. Pois se não aceitar, outro o faz por ele. E se ele não aceitar, um terceiro abraça a oportunidade de boa vontade.É este o mundo dos empregos que deveriam ser das pessoas. Mas são as pessoas que são dos empregos.

Danielle Ferreira

Um comentário:

  1. Texto sensacional! Mais elucidador que as fotos da National Geographic e mais assustador que a falta de Prozac a um viciado. Mas veja, eu não sou viciado. Foi só um exemplo!

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