quinta-feira, 23 de abril de 2009

O desespero da mídia - Como ela retratou a (sua) crise

Por Bruna Rodrigues

Como retratar uma crise se você também é parte dela? Talvez essa tenha sido a principal pergunta que os grupos de comunicação estão se fazendo desde setembro de 2008. Aliás, podemos considerar o início da derrocada financeira global a partir da crise no mercado hipotecário dos Estados Unidos, em agosto de 2007. No episódio, economistas juram que foram pegos de surpresa. Eles dizem que confiaram demais em pessoas que tinham histórico de inadimplência. Pretextos a parte, todos sabiam que o pico de consumo se tornou irreal, uma vez que a lógica era pagar o mínimo possível e acumular crédito. O resultado se deu em uma espécie de “efeito dominó” que não poupou um país sequer em no mundo.

No primeiro momento, a imprensa criou um discurso genérico para naturalizar a turbulência global e fez questão de não distribuir responsabilidades. O desafio era explicar o que acontecia sem que a aliança entre a mídia e o poder econômico fosse ameaçada. Tentou-se legitimar o atual modelo econômico, mas, ao mesmo tempo, os fatos (entenda-se as consecutivas falências) mostraram que qualquer maquiagem seria obsoleta. Até então, o pessimismo não dava o tom às reportagens, que ainda evitavam o uso da palavra “crise” para não impressionar o leitor.

Num segundo momento, quando do anúncio da falência do Lehman Brothers, um dos maiores bancos dos EUA, a era catastrófica começou a estampar as manchetes dos jornais. Muito se dizia, mas pouco era explicado. Os jornais repetiram a mesma informação: as conseqüências da crise seriam mais perigosas do que o imaginado. Em nenhum momento a mídia fez questão de trabalhar o fato de que o modelo neoliberal estava ultrapassado.

Não demorou muito para que os próprios grupos de comunicação entrassem na cadeia das vítimas da crise. No Brasil, redações foram enxugadas e salários reduzidos. Nos EUA, jornais como The New York Times, Washington Post e o grupo Tribune (que edita o Los Angeles Times
e o Chicago Tribune) também enfrentaram os piores momentos de suas histórias. Na tentativa de reduzir os custos, o Seattle Post-Intelligencer teve que migrar do meio impresso para a internet.

A terceira fase da crise, o anúncio das demissões em massa, foi igualmente retratada pela mídia. O número de novos desempregados era divulgado em tempo real, mas poucos foram os meios de comunicação que contaram o drama da vida de milhares de funcionários que perderam seus empregos. Então, ficou claro que a mídia julgou a medida como um “ajuste necessário” para recompor o capitalismo. A principal discussão foi deixada de lado: o fim do neoliberalismo já estava anunciado, mas insistiam em repará-lo. Até mesmo convocar o Estado para regular a economia foi descartado. Muitas matérias reforçavam a ideia de que o protecionismo não era a melhor saída, na simples reprodução da opinião dos principais líderes mundiais.

A lógica tradicional da mídia foi colocada em questão. Ao mesmo tempo em que se viu numa turbulência particular, ela tinha a responsabilidade de explicar uma das mais graves crises econômicas da história. É evidente que toda informação era pensada antes de ser divulgada, o que afeta diretamente um dos principais alicerces do jornalismo: a transparência. O filósofo italiano Gramsci dizia que toda crise consistia no fato de que “o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer”. Espera-se então que o questionamento dos valores vigentes seja suficiente para que se pense numa economia social. E que os jornais noticiem isso.

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