quinta-feira, 2 de abril de 2009

O Salvamento das Empresas

A crise econômica global continua a estender-se. Os efeitos são sentidos paulatinamente através de sucessivos dados sobre problemas enfrentados por empresas e corporações. O desemprego também é um elemento indicador da catástrofe econômica.
Após vinte oito anos de monopólio do pensamento e das ações por parte das corporações e de suas empresas o esgotamento é visível. Os apelos que estas instituições fazem assemelham-se a pedidos de socorro, desesperados pedidos de socorro. Tais gritos são dirigidos ao Estado e a suas expressões práticas, os governos.
Há dois elementos interessantes neste momento: o primeiro revela a mudança profunda na argumentação destas corporações, empresas, seus intelectuais e seus órgãos de mídia, pois o Estado deixa de ser execrado e surge como a única forma de salvamento e segurança. O segundo é que, apesar do discurso, o Estado esteve sempre em consórcio com as corporações nestas três décadas. Os papéis da dívida pública foram centrais na existência do atual mercado financeiro. Além disso, o Estado financiou a expansão dos gastos militares e financeiros, bem como desarticulou sistemas de saúde, de aposentadorias, redes de proteção social e educação, abrindo “espaço vital” (como diria Hitler – perdoem-me por citá-lo, mas não encontro diferenças substanciais na defesa do capitalismo nos dois momentos) para os negócios do capital. O Estado não era oposto ao capital, mas sua condição de expansão.
Na crise atual o Estado sai da condição de impulsionador da acumulação capitalista para a de único mecanismo capaz de garantir a sobrevivência do sistema. Mas o que deve ser salvo neste sistema? A resposta dada por seus defensores é a de que as empresas são os alvos essenciais do resgate. É preciso manter de pé os bancos, as seguradoras, as montadoras de automóveis, as construtoras, em suma, as empresas, pois estas são as formas centrais da organização capitalista. Salvá-las é a própria salvação do capital e do capitalismo. Entre os defensores do capitalismo a única discordância é a de que algumas empresas não deveriam ser salvas, algo como uma punição moralizadora, evitando o “risco moral” de uma sensação de impunidade por desrespeitar as sagradas leis do capitalismo. Porém, há o consenso de que o sistema deve ser salvo, ou seja, de que a forma empresarial do capital deve sobreviver.
Eu me pergunto: para que salvar a forma atual? Quem ler esta afirmação poderá pensar que desejo uma piora das condições da crise, ou uma degradação da vida das pessoas. Poderia parecer irresponsabilidade extrema não socorrer as empresas e deixar que mergulhassem no nada cósmico de uma crise incontrolável. As pessoas, digo melhor, a humanidade seria arrastada para este nada catastrófico de proporções inimagináveis.
Porém, compreendo que a forma empresarial é que tem sucessivamente nos arrastado para o caos recorrente; para guerras colossais, para genocídios rápidos e lentos (étnicos, culturais, religiosos), para crises econômicas, para a criminalidade internacionalizada e institucionalizada no sistema financeiro.
Sejamos claros, a forma empresarial está esgotada. Ajudá-la a sobreviver somente adiará e elevará os problemas. Socorrer financeiramente bancos e demais empresas para que o sistema tenha novamente credibilidade manterá a mesma forma de vida atual. O mercado será o dirigente da existência humana, as empresas as únicas formas de ação produtiva e a forma essencial de relacionamento da humanidade entre si. Estará sendo alimentada a forma esgotada de concentração da riqueza, onde os benefícios da vida coletiva humana são propriedade de empresas, corporações e seus dirigentes.
Prepara-se a manutenção da forma empresarial e do capitalismo. Novas rodadas de negócios do mercado financeiro serão garantidas pelo Estado. Não há saídas novas a serem propostas. Há uma cegueira generalizada (como diz Saramago) para pensar uma forma distinta da atual, o que não poderia ser diferente, diante do massacre perpetrado contra pensamentos distintos.
O mercado financeiro é o desembocadouro do mundo empresarial, a sua suprema realização e expressão. Está esgotado o mercado financeiro, estão esgotadas as empresas. Salvá-los produzirá novas e mais profundas crises; não falo de crises econômicas, que são somente medições do desempenho de empresas e do capital. Falo de crises humanas que ocorrem surda e dolorosamente mesmo nos momentos mais efervescentes dos negócios capitalistas, mesmo em suas “eras douradas”.

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