terça-feira, 28 de abril de 2009

Capitalistas do mundo, socializais a crise!

Por 11 anos, a discussão sobre a economia mundial que Roberto Kurz fez em seu texto Perdedores Globais se manteve fortemente atualizada. Até agosto de 2008, podíamos ver refletidos na configuração real do planeta todos os pontos que autor analisa em seu trabalho. Um fato novo, porém, abalou idéias que já pareciam petrificadas e forçou os economistas- ganhadores globais - a rediscutir certas relações de força, como aquelas que tinham alterado o papel dos Estados Nacionais. Refiro-me à crise econômica mundial.

Não se questiona aqui as constatações sobre o funcionamento da economia expostas por Kurz. É indiscutível que a internacionalização do capital, que começou a se delinear nos idos de 1960, ganhou muita força com o passar dos anos. O capital nunca esteve tão desligado das economias nacionais e interconectado pelos grandes grupos financeiros como está agora. Não há prova maior disso do que a grande velocidade com a que a crise se espalhou pelo planeta. Já não é possível localizar espacialmente as perdas, como foi feito em relação à “crise dos genoveses’’ ou à “crise dos holandeses”; ela é a “crise mundial” e ponto. As produções continuam completamente descentralizadas e descomprometidas com interesses locais. Esses são aspectos que sequer foram postos em questão com o surgimento da crise; pelo contrário, os grandes atores da economia estão perdendo o sono para tentar preservá-los.

E nesse momento é que o Estado foi chamado novamente para a cena. O que se vê diariamente nos noticiários são grandes corporações financeiras sendo socorridas pelos cofres públicos. Bilhões e bilhões de dólares já escoaram das mãos de presidentes e primeiros-ministros para socorrer os problemas que as especulações desenfreadas geraram. Muitos países desenvolvidos já falam em controle financeiro para evitar novas situações desastrosas. Como num passe de mágica, as certezas sobre participação mínima do Estado e auto-regulamentação da economia foram postas de lado.

O texto de Roberto Kurz retrata a relação do Estado com a economia no momento exatamente anterior ao que estamos vivendo, quando se desenhava a diminuição da competência daquela instituição. Note-se que não afirmo aqui que as economias nacionais vão voltar a ganhar força e os países passarão a ditar as regras financeiras. Longe disso. Essas iniciativas muito provavelmente são passageiras, mas demonstram que os governos nacionais não estavam tão debilitados quanto se pensava e agora conseguem voltar a ter relevância no jogo econômico.
É abominável, no entanto, que os fatores que despertaram os países desenvolvidos para a importância da ação estatal foram de caráter material e não humano. A concentração de riquezas, que a lógica da globalização acentuou desmedidamente, gerou uma gigantesca massa de pessoas miseráveis, completamente excluídas do mercado global. Os seletos beneficiados por esse sistema começaram a re-analisar suas teorias não porque o mundo fora de suas “ilhas” se afundou na pobreza e no desespero, mas porque a tampinha de cerveja sobre a qual dançavam se rompeu.

O mundo está diante de um daqueles momentos históricos oportunos para se romper com estratégias fracassadas. A atrofia de uma instituição capaz de zelar pelo bem comum acaba de se mostrar ineficaz e a conseqüência mais clara disso é “a guerra civil mundial”, discutida por Kurz. O terrorismo como prática política é um recurso desesperado de resistência às imposições globais, sejam elas de caráter econômico ou cultural. Ainda assim, não precisa ser profeta para prever que essa oportunidade vai ser, mais uma vez, jogada na vala comum da ganância.

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