quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pense nos Perdedores Globais

Nunca o texto de Robert Kurz foi tão atual. Mais do que pensar em subprimes e spreads, deveríamos olhar para os perdedores globais se quisermos ter chance nessa nova situação de crise.

Como diz Francisco de Oliveira em seu artigo na Folha de S. Paulo, essa é a primeira crise da globalização. Ela, portanto, não é como as outras: é maior e tem potencial para provocar muito mais estragos. Sua principal semelhança com as infinitas crises cíclicas pelas quais o sistema capitalista passou até agora é que os perdedores globais estão sempre do lado mais fraco: o lado do trabalhador.


O dito popular “privatizam-se os lucros, socializam-se os prejuízos” nunca foi tão verdadeiro. Todo o mundo sofre agora as conseqüências do conforto e do consumo do american-way-of-life, antes ancorado em muito mais crédito do que 12 economias globais poderiam sustentar. Deu no que deu, e agora o governo americano corre para privatizar gigantes do capitalismo (e do liberalismo?) e para jogar dinheiro para o alto para tentar salvar bancos e montadoras, as bases de sua economia, enquanto a tão elogiada “família americana” perde sua casa e se muda para dentro de seu grande carro.


E a revista Newsweek sai com um Barack Obama vermelho, com a foice e o martelo na capa. EUA comunistas?


Mas Robert Kurz se apressa a lembrar que grande parte das indústrias estatais são consideradas pouco lucrativas pelos padrões internacionais e que o Estado não é mais o “capitalista ideal”. Parece que os governos estão usando velhas medidas para sanar uma nova crise. Se no passado essas velhas medidas já não resolviam, de fato, o problema, não parece ser esse o momento em que começarão a funcionar.


O presente também dá indicações de que o “futuro próximo” do autor chegou; o “futuro próximo em que, em cada continente, em cada país, em cada cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade.” Exemplo disso é o que Francisco de Oliveira lembra: “Flynt (GM), Dearborn (Ford) e toda Detroit são hoje cidades fantasmas, casas abandonadas, com desempregos duas vezes superiores à taxa nacional norte-americana, e uma cena medieval diária, inimaginável na América das oportunidades.”


Kurz indica que a única reação governamental a essa situação – quando perdedores globais têm reações desesperadas (como em protestos constantes durante reuniões como G-20 e Davos) – é o crescente e constante policiamento. Ele indica que, embora ainda ineficazes, ONGs e outras associações, possam ser um caminho colaborativo de apoio aos perdedores globais.


Mas nenhuma solução real aparecerá enquanto os perdedores globais não forem colocados ao lado de subprimes e spreads na elaboração de uma nova solução para uma nova crise.

Nenhum comentário:

Postar um comentário