sexta-feira, 17 de abril de 2009

Últimos Combates?

Já na primeira linha de seu texto, Robert Kurz sentencia que a ciência econômica se encontra numa profunda crise, pois, desenvolvida no âmbito dos Estados nacionais e feita para ser administrada no espaço funcional das “nações”, esta se encontra tão livre das amarras dos Estados soberanos como nunca antes na história, e de um modo que nem o maior entusiasta do livre comércio poderia imaginar.
Como afirma Kurz, com o avanço tecnológico obtido nas comunicações e transportes, se tornou extremamente fácil movimentar dinheiro de um lado ao outro do planeta com apenas um clique no computador, e finalmente se criou um mercado único e global, com todo e qualquer tipo de produto (órgãos humanos, dívidas de países em desenvolvimento, autopeças, mão-de-obra barata...) podendo ser negociada neste, sem a ínfima intervenção de um Estado nacional. Estes, os Estados nacionais, acabam ficando a mercê desses operadores globais que, por efeito de um simples sentimento de insegurança, como eles afirmam, podem promover uma fuga em massa dos seus capitais investidos em um país, o que o leva normalmente, por conta disso, a beira do colapso.
E esta liberdade sem limites dos meios econômicos, ocorre tanto no sistema financeiro, com bancos concedendo crédito a torto e a direito sem que tenham capital para tanto, quanto no sistema produtivo, com as maiores corporações do mundo atingindo um status quase de soberanias nacionais, com certeza, mais poderosas que estas.
O documentário “The corporation” ilustra bem esta situação ao mostrar como as grandes multinacionais, sem o mínimo de preocupação com a exploração humana e o desrespeito aos direitos humanos, buscam, no esforço contínuo de se reduzir gastos e aumentar os lucros, transferir sua produção para onde a mão-de-obra é mais barata, leia-se: para onde os trabalhadores vivam em uma condição quase análoga a escravidão, e que as leis trabalhistas não sejam tão severas, leia-se: inexistentes. E o desrespeito, sempre ancorado na busca incessante por lucro, atinge inclusive o meio ambiente, cuja preservação é vista como algo desnecessário ante os dividendos que se pode obter com a sua exploração.
E os Estados se vêem de mãos atadas para barrar estas ações, pois as corporações sempre deixam claro que, se não obtiverem a liberdade que desejam no local onde pretendem se instalar, não terão o mínimo pudor de procurar outro país onde suas exigências sejam aceitas, levando consigo os milhares de empregos de que necessitam.
No sistema financeiro os abusos são ainda maiores, pois os bancos não respeitam nem as diretrizes elaboradas pelos ideólogos do liberalismo clássico e livre comércio. Agindo de forma contrária ao pregado pelo Novo Acordo de Basileia sobre Capitais, conhecido como Basiléia II, que defende que as instituições financeiras podem alavancar em até, no máximo, 12 vezes o seu capital, em operações de diversos tipos, bancos como o finado Leman Brothers, antes da atual crise e apoiados pelo capital superior que, ao contrário do que se imagina, defende altas concessões de crédito, estava alavancado de, 38 a 48 vezes o seu capital.
E ante a esta, no mínimo, má ingerência dos sistemas financeiros, o que os Estados nacionais têm feito? Com a desculpa de controlar a crise, injetam dinheiro do contribuinte, o seu, nesses bancos, e os estatizam, numa tomada de atitude que sempre fez parte do, parece infinito, ciclo de crises do capitalismo global.
Todo este panorama tratado por Kurz leva, inevitavelmente, a seguinte pergunta, cuja resposta ele apenas sugestiona: qual seria a solução para tudo isso? Como os Estados devem agir perante um capital global que goza de liberdade plena e não é limitado pelas amarras de nenhuma soberania? A resposta para isto, creio eu, está no diálogo entre as nações, que devem elaborar diretrizes conjuntas para barrar estes abusos. Por mais simplista e ingênuo que isto possa parecer, acredito ser impossível para um Estado, individualmente, lidar de forma satisfatória com um capital que, como afirmamou-se várias vezes nesse texto, é global.
Ester Minga.

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