sábado, 23 de maio de 2009

Quem paga a conta?

“Produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”. Eis a lei do capitalismo mundializado, conforme destaca Robert Kurz em “Perdedores globais”, texto em que esmiúça as mudanças estruturais da economia diante da globalização dos mercados, do dinheiro e do trabalho.

A lógica que rege o comportamento empresarial, de tão empregada e disseminada, parece ter sido naturalizada aos olhos da sociedade. A busca desenfreada pelo lucro é vista como uma atividade intrínseca ao sistema capitalista, uma necessidade natural das corporações.

De fato, a lógica capitalista se baseia na “mais-valia”, como descreveu Marx. O caminho percorrido para tal, no entanto, precisa ser levado em conta. É preciso considerar que, em todas as suas etapas, esse sistema interage com o mundo real, pois ele não acontece numa página em branco. Ele se choca os limites dos recursos naturais e com as necessidades das pessoas.
Assim, como nos mostra o autor, na matemática dos lucros do capitalismo globalizado, a população das nações é quem paga a conta.
As conseqüências, ao contrário do que pregam os defensores do capital e os relatórios de responsabilidade corporativa, não significam “expansão dos avanços tecnológicos” ou “desenvolvimento da comunidade local”. As implicações são muito mais nefastas.

Só para citar alguns exemplos, no início de maio a Procuradoria Geral de Nova York divulgou um relatório sobre os impactos causados pela exploração de petróleo na Amazônia equatoriana pela empresa Chevron (antiga Texaco). Segundo o documento, a dívida social e ambiental da petrolífera com o Equador ultrapassa US$ 27 bilhões, acumulados em 30 anos de atuação no país — período em que assumiu práticas irregulares a fim de reduzir seus custos de produção.

Já no ano passado, aproveitando a ocasião dos Jogos Olímpicos de Pequim, a campanha internacional Play Fair — encampada por ONGs e sindicatos de todo o mundo — denunciou a exploração de trabalhadores nas periferias do globo na confecção de artigos de gigantes esportivas, como Nike, Adiddas, Puma etc. O salário de um mês inteiro de um operário da China, por exemplo, não compra um tênis da Nike que ele mesmo confeccionou em seu preço de mercado.

Outros casos semelhantes de exploração trabalhista e de danos ambientais não faltam, mas esses dois são exemplares das práticas das corporações globais.
Para além do ataque às empresas em si, o que essas denúncias deixam claro é que com a redução da regulação do Estado, o poder das corporações inflou a níveis absurdos. Afinal, como explicar que esse tipo de exploração depredatória ocorre sem que ninguém faça nada?

Com a coordenada ação de lobby, aliado à diminuição do poder regulador, as empresas assumem o posto de governo, pois conseguem a manutenção de políticas a elas favoráveis — e não à população.

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