segunda-feira, 4 de maio de 2009

Globalizar o quê?

“É a globalização!”

Dita assim, sem contexto, essa frase é apreciativa ou depreciativa? Muita gente admira o fato de poder conversar com parentes no Japão, ler em tempo real notícias da Alemanha, instalar uma fabrica na Ásia, e a qualquer instante comprar produtos ou matéria-prima de qualquer lugar do mundo. Robert Kurz, no entanto, busca revelar o que há de mais perverso no conceito em “Perdedores Globais”. No fundo ele lembra que se, por exemplo, crianças costuram bolas na Índia e trabalhadores vivem em regime de escravidão ou quase na China, grande parcela de culpa é dela. É a globalização!

A queda de barreiras comerciais, ele sustenta, retira a autonomia do controle dos Estados. O comércio global, livre de fronteiras, funciona de maneira desgovernada. Kurz escreveu isso muito antes dos acontecimentos econômicos deste ano. Em 1997, ele assistia às privatizações das empresas que restavam nas mãos do governo. Na verdade, os governos lavavam as mãos leiloando empresas a baixos preços e mínimas garantias. Taí a Vale, talvez como maior exemplo brasileiro. Era o sepultamento dos Estados fortes, que representavam a social-democracia estruturada em tempos de Guerra Fria. Voltávamos então para o capitalismo do salve-se quem puder, já que esse sistema não precisava mais competir com o comunismo havia aproximadamente uma década.

O grande X da questão está nesse formato, e não na sua globalização, que é responsável apenas por elevar a nível mundial uma situação presente em todas as esferas menores. Com a queda do muro de Berlim, o comércio adentrou praticamente todos os países do globo, fossem eles oferecedores de mercado consumidor, mão-de-obra, matéria-prima ou baixos custos para instalação de filiais. Somado o fim do Estado forte, isso instala a nível mundial a situação do capitalismo selvagem.

Para um sistema baseado na meritocracia como estímulo à sociedade, é absolutamente natural que existam perdedores e ganhadores. A afirmação não é necessariamente uma crítica, mas é certo que a desigualdade faz-se necessária. A lógica, no entanto, acaba no momento em que os perdedores acotovelam-se em bolsões de pobreza sem chance alguma de competição e, mesmo assim, a economia continua funcionando pautada nas elites financeiras. Acontece dentro das cidades, com as favelas, nos limites dos estados, com municípios improdutivos, nos limites do país, com estados à margem, e, por último, fora de qualquer fronteira. Uma nação ou um continente inteiro podem sumir sem alterar o mercado global. Outros não podem sair do mapa apenas porque oferecem mão-de-obra desqualificada ou são bons lugares de produção por causa de frouxa regulação ambiental. Organismos internacionais, a ONU a frente, funcionam com a mesma ingerência dos Estados.

Seria a hora da globalização de uma nova crítica social, sugere Kurz, por fim. Nada de ONGs paliativas, como Greenspeace ou a Anistia Internacional, que não criticam o sistema econômico como um todo. Doze anos passados, assistimos à emersão dos BRICs, à economia iraniana incomodando uma premier britânica e à chegada de um negro na Casa Branca. Mas a sugestão do autor não vimos ser seguida.

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