sexta-feira, 29 de maio de 2009

Brasil não será um dos perdedores globais

Charge retirada do site "Retratos do Brasil"


Passado o trimestre de insegurança, parece que a sensatez voltou aos mercados. Os investimentos externos no País dobraram em abril. Os estrangeiros têm aplicado recursos tanto no setor produtivo quanto no mercado financeiro. A maior resistência à crise e a alta taxa de juros aplicada no Brasil alavancam os investimentos. Como aqui os juros caem em doses homeopáticas, entrar com dinheiro é um dos melhores investimentos do mundo.

Os últimos seis meses foram o pior período econômico para o mundo desde o final da Segunda Guerra, em 1945. É a conta da farra financeira que explodiu de uma vez em setembro de 2008. Economistas dizem que os sinais de melhora são frágeis. Porém, dólares continuam entrando no Brasil.

O problema é que a valorização do real barateia os produtos importados, o que enfraquece a indústria nacional e pode causar desemprego. Além disso, o produto brasileiro fica mais caro no exterior, o que dificulta as exportações. Mesmo asssim, o Brasil está entre os 15 países mais avançados nessa área. Além disso, com o dólar em baixa, a inflação é controlada e as dívidas em moeda americana ficam com custos reduzidos. O ideal é que a barreira dos R$ 2 por dólar não seja ultrapassada. O Brasil, com uma economia mais diversificada, deve se sair melhor na crise do que economias em que o sistema financeiro era o mais forte (Europa e EUA) e países exportadores (China e Rússia).

O Brasil também se destaca pelo aumento da distribuição de renda e por tirar milhares de pessoas da linha de pobreza e incluí-las no mercado interno. Com o aumento do consumo, há um fortalecimento desse mercado. O País redistribui riquezas e incorpora grandes massas a um patamar superior de conforto e consumo. Já uma das dificuldades apresentadas ainda é a alta corrupção, que infla as contas do Estado e faz com que investimentos sejam menores na nação. Isso acarreta uma diminuição do crescimento.

A tendência da globalização é a acumulação de capitais. Porém, em épocas de crise, novas oportunidades surgem. Depois de dois anos seguidos de expansão econômica na casa dos 5%, não há, até o momento, previsões de recessão, mas é consensual que os percentuais de crescimento serão mais modestos em 2009. O Brasil sofre com a retração mundial do crédito. Com recessão nos Estados Unidos e na Europa, algumas opções para exportações não estão mais aptas. Por isso, a busca por novos parceiros e mercados é a solução. A China, inclusive, já é o maior parceiro comercial do Brasil. Com um mercado interno que tende a crescer e que recebe incentivos para o consumo a todo momento, já que tem uma boa linha de crédito, os chineses continuam consumindo. Apesar disso, é difícil alterar a cultura de exportação para a de consumo. Os chineses tendem a poupar, mas o momento é de gastar. Porém, como são muitos, o consumo continua em alta.

Para que não sejamos perdedores globais, o Brasil precisa exportar bens de alta tecnologia, para que empresas tenham confiança de trazer tecnologia para o País. O governo precisa estimular um ambiente de mais inovação no setor privado. Apesar da crise global, o Brasil é um país que pode se sair bem e chegar ao fim da tensão econômica melhor do que no início. O Brasil apresenta regras democráticas estáveis e um sistema financeiro sólido (com bancos tendo lucros em cima de lucros). Além disso, em comparação com os outros emergentes, chamados de BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil não sofre com conflitos étnicos ou religiosos, tem um único idioma e não enfrenta problemas de fronteira. Com a rápida urbanização do planeta, a demanda por alimentos importados tende a aumentar. A procura por petróleo também é evidente nas próximas décadas (já que a geração em massa de combustíveis alternativos ainda engatinha no planeta). O combustível fóssil é abundante nas costas brasileiras (pré-sal) e somos, inclusive, exportadores e auto-suficientes. Quando tratamos de commodities, estamos entre os cinco maiores do mundo.

O que pode bloquear a chance de sermos líderes é o fato de que os nossos serviços são defasados. Para que mudemos esse aspecto, é preciso investir em educação. A criação de padrões mais sólidos de aprendizado, formação de professores e o aumento do salário para os mestres são fundamentais. O combate à corrupção, a reforma do governo, a revisão das diferenças de renda, a garantia da segurança, a estabilidade de emprego para funcionários públicos e privados e, claro, a reforma da Previdência são outros desafios. O desenvolvimento do Brasil depende disso. A infra-estrutura precisa também ser revista. Os portos, as estradas e as ferrovias precisam de reformas e ampliações.

Com cada vez menos homens "cuspidos" do mercado no Brasil (que desencadiariam a crise do sistema mundial) e com o envelhecimento da população , os custos da segurança diminuem. É claro que ainda são necessários diversos investimentos e a inclusão de várias pessoas ao mercado, mas isso, com o tempo, tende a se consolidar.

Portanto, a economia mundial deixará de ficar limitada aos países ricos e ganhará nova distribuição. A longo prazo, com novos mercados e negociações, o capital não estará acumulado e não ficará sobre uma base restrita. A concorrência globalizada, com a crise, aumenta. Nesse ponto, o Brasil sai da crise como um vencedor global, ao lado dos BRICs.

2 comentários:

  1. Gostei. Até que enfim um texto que não apela para Marx nem fala de coisas que o autor não entende.
    VE

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  2. Gostei da visão otimista, embora realista.

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