segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os perigos da economia global

Por Bárbara Silveira

No livro “Os últimos combates”, de 1994, o ensaísta alemão Robert Kurz analisa o sistema político e econômico das sociedades modernas e contesta alguns acontecimentos que são tidos como sucesso, como a Nova Ordem Mundial ou a globalização.


Mais precisamente, no capítulo “Os perdedores globais", Kurz destrincha estes dois últimos conceitos e também mostra que o caminho pelo qual a sociedade está seguindo, através do capitalismo financeiro, trará duras conseqüências ao bem estar mundial e ao futuro das nações.

ECONOMIA GLOBAL

Kurz inicia o seu texto falando sobre a economia nacional, que a partir da década de 80 deixou de existir para dar espaço ao mercado global. Para o filósofo, essa mudança ainda não teve um análise séria e é isso que ele tenta fornecer ao leitor, durante seu breve e profundo texto.

Com o início deste novo modelo de mercado, Kurz demonstra que, além da exportação de mercadoria, também se fez necessária a exportação de capital. Ou seja, cada país do globo, hoje em dia, depende da economia saudável de seus parceiros de negócio. Deste modo, uma economia nacional se torna dependente de outra; assim unificando os mercados.

Vide a recessão que o mercado mundial está enfrentando no momento. Ao passar por um momento de dificuldade, a economia dos Estados Unidos, uma das maiores potências mundiais, abalou a estabilidade de diversos países, pois todos dependem, de alguma maneira, do capital norte-americano.

OS PERDEDORES

Entretanto, neste cenário, “as diferenças entre os países pobres e ricos são lentamente niveladas, mas não em termos de bem-estar geral”, diz Kurz. Isso porque neste modelo sempre terá alguém perdendo, “os perdedores globais”.

Com as novas tecnologias e racionalização dos meios de produção, a força de trabalho foi perdendo a sua importância. E os mais afetados são os países em desenvolvimento que, como Kurz cita, possuem salários baixos, leis generosas e impostos baixos - um belo atrativo para as multinacionais.

“O capital estrangeiro não visa mais ao desenvolvimento do pais como um todo e é preciso atraí-lo com a redução de impostos e outras regalias”, afirma Kurz.

Além do mais, para o autor, estes Estados “imperialistas” não se interessam mais pela anexação territorial. “Afinal de contas, de que servem as enormes regiões assoladas pela pobreza, cuja população não pode mais ser utilizada?”, questiona o filósofo.

CONSEQUêNCIAS

Para Kurz, as consequências desta nova ordem mundial, “sem dúvida, são absurdas e perigosas”. Cada vez mais, o Estado tem menos força e, quando ele ameaça tomar alguma atitude para minimizar as atitudes desenfreadas do mercado, as empresas globalizadas ameaçam sair do país e ir para outro lugar.

Com um tom de clarividente, Kurz analisa quais serão os reflexos deste sistema econômico. “Num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em cada cidade existirá uma quantidade de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade

Os Estados, devido à falta de recursos financeiros, abandonam à sua própria sorte uma parcela cada vez maior da população, roubando-lhe o direito à cidadania”, prevê Kurz. Além disso, o autor afirma que os antigos países imperialistas mobilizarão uma “polícia mundial” contra os perdedores globais, para assim “garantir condições sociais condizentes as ilhas de riquezas”.

SISTEMA AUTO-DESTRUIDOR

Ao ler este capítulo, a impressão que se tem é a de que o capitalismo financeiro possui um sistema interno tão complexo e agressivo que, algum dia, ele mesmo causará o seu fim. Não como um suicida, que premeditadamente se mata, mas de uma maneira cega e burra e por causa de sua enorme ânsia por mais.

Em um trecho do texto, quando Kurz descreve a ausência de controle do Estado sobre os mercados globais, o autor diz: “a globalização, podemos concluir, tira do poder do Estado os meio financeiros imprescindiveis para o próprio desenvolvimento da globalização”.

Ou seja, a soma de um Estado ávido por reservas mais um mercado que visa explorar o local que se instala não pode resultar em algo saudável para a população e para a economia das nações. Um novo modelo se faz necessário.

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