terça-feira, 16 de junho de 2009

A vida pública na privada

“Se você não lê jornais está desinformado.
Se você lê está mal informado”
Mark Twain

A partir da citação do escritor Mark Twain, pode-se refletir quanto à credibilidade e a veracidade dos fatos descritos dia após dia pelos diversos meios de comunicação. Não há jornalista que não deixe escapar sua opinião, não há reportagem que não possa ser entendida como parcial, não há órgão de informação que não tome suas posições políticas e ideológicas, sejam elas feitas de forma aberta ou simplesmente implícita.
Não se pode esperar da imprensa, uma entidade criada na sociedade burguesa, uma total imparcialidade ou extremo distanciamento dos fatos. Aquele que domina a informação e os meios para se formar opiniões costuma usar de seus artifícios para privilegiar seus próprios interesses e/ou favorecer a parceiros financeiros ou ideológicos. Um jornal, uma revista, uma emissora de televisão, todos estes canais necessitam de dinheiro e recursos para se manterem e, desta forma, buscam (ou são encontrados) por patrocinadores e investidores dispostos a contribuir com o crescimento e desenvolvimento das atividades midiáticas em todas as suas formas.
Porém, não há duvidas de que essa parceria custa uma série de medidas que regulam e editam grande parte das pautas visando proteger e agradar aos contribuintes. Inverte-se a relação entre patrocinador e comunicador, retirando-se a autonomia nas pautas e o compromisso com a verdade (seja qual ela for) de quem transmite a mensagem, tendo agora de se preocupar com a opinião de seu financiador.
Os órgãos públicos não escapam a essa regra, e tornam-se tão ativos neste esquema que acabam por confundir os limites da esfera publica e da esfera privada. A política brasileira republicana tem tradição na utilização dos meios de comunicação como instrumento de divulgação e/ou manipulação de ideais. Na era JK, a mídia teve grande importância na construção da imagem de um governo para frente, voltado ao desenvolvimento e disposto a atuar freneticamente dentro do lema “50 anos em 5”. Ainda em seu início, a concepção de artes visuais e audiovisuais foi levada ao extremo, e construiu-se uma rede midiática preocupada em publicar noticias que mostrassem um Brasil promissor e repleto de mudanças em andamento.
Desta forma, a história do país nestes últimos tempos é marcada pela influência da cultura de massa, amplamente democratizada e acessível a grande maioria do povo brasileiro com um mínimo de condição social. Porém, esta mesma informação massiva sofre um fenômeno de manipulação e produção pré-definida de conteúdo. Surge então uma indústria preocupada em atingir o maior número de pessoas, sem grandes preocupações com o teor dos conteúdos e a planificação do pensamento comum.
Ainda assim, há uma constante disputa por influencias entre setores de interesses particulares, como o de empresas, famílias importantes, políticos, e os interesses de caráter privado, que buscam a formação de opinião de públicos-alvo específicos que acabam por nortear os seus rumos. Cada grupo, órgão ou pequeno jornal costuma direcionar suas notícias, seus enfoques, suas pautas, de acordo com um publico receptor que de fato consome toda essa informação e, muitas vezes, não esta interessado em ver os fatos por outro ângulo, aceitando passivamente todo esse conteúdo exposto de maneira unilateral. É este conformismo que deve ser combatido, provocado, destruído ou pelo menos questionado pelos profissionais da comunicação que estão começando agora nesse mercado das informações. Não se deve permitir a continuidade desse jogo de interesses nem mesmo se deixar influenciar ou se intimidar pelas grandes corporações que hoje possuem a indústria cultural em suas mãos.
A mídia é cercada por uma infinidade de pressões alheias e externas a seu caráter informacional. O mundo publicitário alimenta e determina o espaço publico, redefinindo padrões e reorganizando pautas. Os governos têm essa percepção, e por isso mesmo tornam-se um dos maiores anunciantes e patrocinadores dos meios de comunicação, alterando resultados eleitorais ou avaliações gerais de seus governos.
Não importa o veículo que você escolher para se informar, não importa o tempo que você se dedique as mais diversas fontes de informação, não basta apenas ignorar um grupo midiático e acreditar que desta forma esta fazendo a diferença. É da natureza da mídia tender para aqueles que a sustentam, ser imprecisa apesar de todo o esforço e permitir as mais diversas interpretações de suas matérias. Logo deve-se procurar o maior numero de fontes diferentes e principalmente, estar ciente de que é possível formar uma opinião própria sobre um tema independente do que lhe é transmitido, e sim baseando-se nos seus ideais e concepções de mundo.

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