sábado, 13 de junho de 2009

Velhas Soluções

Por Paula Aftimus

Há quem defenda que não se pode discutir o capitalismo sem incluir na conversa as inevitáveis crises que o permeiam. Alguns economistas ressaltarão até que tais episódios não são sequer defeitos do sistema, mas virtudes. Dessa forma, o trabalho de políticos e economistas seria apenas de apresentar a melhor solução para lidar com uma dessas “virtudes” quando ela decide dar o ar da graça.

Foi em uma dessas situações, mais precisamente durante a Grande Depressão iniciada em 1929, que o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) teve seu nome fincado na história. Em meio à crise, ele propôs que o Estado fomentasse o mercado débil, ofertasse empregos e realizasse programas sociais. O resultado foi um aquecimento da economia e uma era de progresso que superou a II Guerra Mundial e consolidou os EUA como potência hegemônica.

Obviamente isso soa muito mais simples e bem-sucedido no papel do que propriamente na prática. O pensamento do economista apontava três formas de desequilibrar o sistema. A primeira dizia respeito ao trabalhador que, ao invés de gastar o seu salário em bens de consumo, aplicava-o na poupança. Ou seja, o dinheiro que o industrial gastava na produção (que incluía, entre outros custos, o de pagar o trabalhador) não retornava para ele, o que acabava por impedi-lo de investir mais na produção, resultando em diminuição dos lucros e conseqüente demissão de funcionários – o que só dava continuidade a esse ciclo. O segundo ponto levantado por Keynes abordava as importações, de forma que, se as pessoas investissem em bens estrangeiros, era o mesmo que se aplicassem na poupança, pois o industrial não veria a cor do dinheiro, por assim dizer. E a terceira questão apontava os impostos cobrados pelo governo como empecilho para o crescimento econômico, já que, novamente, tais valores não voltariam para o mercado.

Uma das soluções foi a de que, para investir em seus negócios, os empresários emprestassem dinheiro dos bancos em poder das poupanças. Assim, utilizariam a grana que, caso contrário, ficaria parada. Resumindo: já que o funcionário prefere aplicar o seu dinheiro a consumi-lo, o empresário gasta por ele, através de empréstimos ao banco retentor de tais economias. O problema é que, após certo tempo, cessam os investimentos para os quais o industrial necessita de financiamento, o que faz com ele também pare de usar esse dinheiro da poupança - dinheiro este que não movimenta a economia.

Pois a solução proposta por Keynes foi de o governo entrar em cena quando chegássemos nesse ponto. A Instituição maior do país deveria recolher o excesso de poupança mediante empréstimos e investir o dinheiro em projetos de utilidades sociais, como a construção de escolas, hospitais, parques, etc. O truque, nesse caso, tratando-se de obras que beneficiariam muito mais os setores de médias e baixas rendas da sociedade, seria convencer a classe dominante da validade da idéia. Afinal, o que eles ganhariam com isso? Foi então que veio a II Guerra Mundial e o governo (assim como as classes dominantes) se viu obrigado a investir – não em escolas, mas em armas. O desemprego se transformou em falta de mão-de-obra e a teoria do economista inglês se provou eficaz. Pelo menos por algum tempo.

Outras crises (ou recessões, como chamam alguns) surgiram desde a teoria de Keynes. Só que, por conta da globalização, ampliaram seus efeitos e de locais, transformaram-se em mundiais. Hoje experimentamos uma dessas crises e as políticas econômicas keynesianas são novamente lembradas, analisadas e transferidas para o século 21. É possível uma adaptação? Exemplo disso são as ações do atual presidente estadudinense, Barack Obama, que, urgido a recordar Keynes em seus atos para lidar com essa crise, de fato está colocando em prática a sugestão do economista e interferindo no mercado que – olha só! – não se auto-regula.

Uma nova crise, uma antiga solução. Ou será uma velha crise, como todas as outras anteriores a ela? Simplesmente porque estamos tratando, na verdade, do mesmo e conhecido sistema já tão estudado, tão criticado e tão preferido... Se o capitalismo tem como virtude algo denominado crise, que afeta a vida de milhares de pessoas de forma extremamente negativa, oras, não se pode adequar-se a ele de forma tão natural. Ao invés de recorrer a antigas soluções, deve-se trabalhar em novas alternativas de conciliar política, economia e sociedade. Como já dizia um velho intelectual alemão: “Tudo que é sólido desmancha no ar”.

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