domingo, 14 de junho de 2009

Keynes, a salvação contra a crise?

Por Rodrigo Borges Delfim

As últimas décadas foram palco do avanço do neoliberalismo e do mercado livre, onde o Estado deveria se meter o mínimo possível na economia. Ironia do destino, é a esse mesmo Estado, antes renegado, que as grandes corporações em apuros financeiros buscam apoio para não quebrarem de vez.

Em meio a esse desespero generalizado, aparece com força a teoria de um economista britânico que fez sucesso após a Crise de 1929: John Maynard Keynes e a teoria Keynesiana. Até mesmo os mais ortodoxos defensores do livre mercado e da “mão invisível” que o controla falam em empregar certos preceitos de Keynes para enfrentar a crise.

Keynes procurou analisar o que estava acontecendo com o capitalismo e apontar soluções que pudessem salvá-lo. Para ele, a economia funciona seguindo um ciclo racional e sistemático que ele denomina "fluxo circular". Tal mecanismo não é automático, pois tem os chamados "vazamentos", que Keynes separa em três grupos: a poupança do consumidor, a saída de moeda com o consumo de produtos importados e o pagamento de impostos.

Keynes sabia que, em situações de instabilidade, os agentes tinham a tendência de guardar moeda pelo seu valor de reserva, prevendo problemas e buscando controlar o nível de consumo futuro. Para Keynes, a chave para o reativar a economia é fazer as pessoas terem recursos para consumir, incentivar tal consumo e assim movimentar os vários setores da economia, compensando assim os vazamentos identificados por ele.

Os preceitos de Keynes que pregavam incentivos governamentais à economia foram bastante úteis durante a Segunda Guerra Mundial. O desemprego virou escassez de mão-de-obra, a economia dos EUA se recuperou e ainda teve o privilégio de ter seu território poupado dos combates que devastavam especialmente a Europa, que emergiu em ruínas do conflito. Ou seja, a Segunda guerra Mundial é responsável por grande parte da prosperidade dos EUA durante a segunda parte do século XX.

Os ideais econômicos de Keynes começam a perder força a partir do fim da Segunda Guerra Mundial, mas continuaram fortemente presentes até a década de 1970, com a ascensão das ideias de economistas chamados de monetaristas e sua releitura da economia neoclássica, como Milton Friedman, e, consequentemente, dos preceitos neoliberais na economia.

Mas, ao contrário do que previa Adam Smith, que pregava que o Estado deveria arcar com o que não desse lucro (educação, saúde, estradas, infraestrutura em geral), o sistema neoliberal transformou tudo isso em fonte de lucro, não sobrando nada para o Estado cuidar. E é agora a esse Estado, desmantelado pelo neoliberalismo, que este próprio em agonia recorre para salvar o capitalismo.

Pois bem, Keynes tem sido ressuscitado nos últimos meses como uma das fórmulas possíveis para sair da atual crise do capitalismo. O problema é que esta se mostra muito mais complexa e profunda do que as demais, e nenhuma fórmula das conhecidas se mostra capaz de ter algum efeito duradouro sobre a crise. Havia até uma classificação de que Keynes serviria para tempos de crise; para a época de bonança econômica, o livre mercado.

A atual crise mostra que o mundo mudou tão rápido que nenhuma teoria econômica parece se mostrar capaz de dar uma resposta satisfatória para o que virá a seguir. Até o momento, Marx foi quem deu as melhores respostas sobre a atual crise capitalista. Mas como não estamos mais no século XIX e sim nos primórdios do século XXI, será necessária uma profunda análise do contexto atual, muito mais complexo, e que até agora, por motivos diversos (falta de arcabouço teórico, crença ainda cega nos preceitos neoliberais, etc.) quase ninguém se propôs a levar adiante.

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