quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vai uma globalização aí?

Com a crise do petróleo, nos anos 70, várias medidas foram tomadas para dar maior agilidade ao mercado internacional. Os Estados Unidos, por exemplo, decidiram renunciar o padrão que era mantido até aquele momento como dispositivo de sustentação cambial, o ouro. Isso gerou uma liberalização dos controles cambiais, espalhando esta prática por todas as grandes economias desenvolvidas. As empresas multinacionais encontraram aí, o momento ideal para a sua difusão sistemática por todo o mundo. É também nesse momento que os capitais financeiros começaram a especular livremente com as oscilações de valor entre as moedas fortes. Iniciaria assim a diminuição gradativa do poder dos Estados nacionais sobre a economia de um modo geral.
A globalização vem acabando com qualquer tipo de fronteira. As comunicações ganharam exorbitante rapidez com a tecnologia permitindo uma atividade especulativa sem precedentes. Com essa nova rede o papel moeda se tornou obsoleto estimulando fluxos contínuos de transações eletrônicas, que passaram a atuar 24 horas acompanhando o ciclo dos fusos horários. O livro de Nicolau Sevcenko, “A corrida para o séc. XXI” afirma que: “o montante dessas transações eletrônicas do mercado mundial ultrapassa 1 trilhão de dólares por dia. Cerca de 90% desse total nada tem a ver com investimentos reais em produção, comércio ou serviços, se concentrando no puro jogo especulativo”.
No campo “real” empresas multinacionais ou grandes corporações passam por cima não só das pessoas como também do Estado. E para comprovar isso exemplos não faltam. Basta lembrarmos o filme: “The Corporation” de Jennifer Abbot e Mark Achbar em que são dados variados exemplos de irregularidades cometidas por essas grandes corporações, desde exploração infantil (NIKE), até criação de produtos geneticamente modificados que causaram vários problemas físicos em recém nascidos (MONSANTO). Esta mesma empresa ainda estava infiltrada nos meios de comunicação e se permitiu calar a imprensa. Mas há também nesse meio e deve-se salientar mega-empresas brasileiras. O jornalista Eric Nepomuceno, em seu livro “O Massacre, Eldorado dos Carajás: Uma história de impunidade” acusa a VALE de participar de uma espécie de consórcio, em que donos de terras locais juntamente com esta empresa pagam certos valores mensais para que policiais corruptos assassinem pessoas que incomodam seus interesses, como muitos integrantes do MST.
O mais cômico dessa história é pensar que os governos espalhados pelo mundo dão regalias ou benefícios inadmissíveis a essas empresas para que estas se instalem nestes lugares. Robert Kurz exemplificou isto muito bem no seguinte trecho extraído da revista alemã Wirtschaftswoche: "Produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores". A própria Alpargatas dona das sandálias Havaianas importa grande parte de seu principal produto da China e usa o “estilo” brasileiro como marketing para vender aqui e em todo o mundo.
Os governos assim ficam restritos ao seu território tendo que ou dar benefícios, ou assistir as empresas se transportando para outros lugares. A armadilha está pronta, o desemprego e a pobreza ameaçam agora qualquer país. Assim como explica Robert Kurz, em seu texto “Perdedores Globais”: “... num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em cada cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade”. Isso irá gerar também em escala global o que nós já estamos acostumados: violência e guerra civil. Só no Brasil são aproximadamente 50 mil mortos por ano, vítimas da violência.
Não acredito que grupos como o Greenpeace, só que direcionados à economia seriam uma grande solução. Eles dariam uma consciência econômica, assim como as universidades dariam aos seus alunos, mas a prática ainda ficaria comprometida. Acredito sim que a solução encontra-se nos próprios governos. Se estes conquistarem a consciência de que tais benefícios, de que tais corporações, de que tais ações citadas neste texto geram um gasto maior do que lucro para o país se reiniciaria um retrocesso. Gastos com saúde pública, com educação e com violência seriam menores se o mercado fosse mais democrático, mais distribuído. A rede Graal, por exemplo, dona de imensas lojas espalhadas pelas estradas brasileiras quebrou pequenos mercados tradicionais que davam sustento a famílias durante muitas gerações, em cidades diferentes, concentrando a renda em uma única família de três irmãos. As paradas de ônibus eram mais espalhadas, beneficiando mais cidades e mais pessoas, que hoje estão desempregadas e mais propensas a violência. Por isso acredito que incentivos fiscais e monopólio, de qualquer modalidade, deveriam ser proibidos gradativamente, pois quem paga o preço de beneficiar uma minoria são a maioria, os “perdedores globais”.

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