quarta-feira, 17 de junho de 2009

Crise? Hã?

Ah, a globalização! A queda das fronteiras mundiais! Think global act local! O poder do mercado global, onde se pode comprar qualquer produto de qualquer canto! Ah, as crises! O pânico mundial, todos juntos numa só voz, quando a palavra crise estampa os jornais do mundo inteiro por mais de uma semana!

Para Marx, a globalização se traduz como um processo legitimamente capitalista pelo qual se realiza a difusão territorial da cadeia produtiva capitalista à escala mundial, dada pela ação das empresas transnacionais e da burocracia estatal, a partir do final Segunda Guerra Mundial com a derrocada do socialismo, criando uma dinâmica global, tanto mercadológica quanto na comunicação.

Já Robert Kurz, em “Perdedores Globais”, exemplifica o processo de globalização do capital com a difusão de fábricas de montagem japonesas na Europa e na América Latina, preferindo componentes semiprontos à utilizar o mínimo de recursos local. Nas condições de realização da globalização um dado produtor pode comprar matéria-prima em qualquer parte do mundo onde os seus preços sejam mais atrativos, implantar a sua unidade produtiva onde a mão-de-obra seja preferencialmente qualificada e barata, onde as vantagens fiscais e infraestruturais oferecidas pelos governos sejam compensatórias, para, depois, efetuar a comercialização da mercadoria para diversas partes do mundo.

Nos termos de Kurz, o capital tira do poder do Estado os meios para sustentar seu próprio desenvolvimento globalizado, enquanto que o Estado tenta impor limites às ações das empresas. Mas acaba perdendo o jogo, uma vez que, devido a intensa mobilidade do mercado, as empresas reagem com ameaças e chantagens. Sair do país, aumentar taxas, etc. Neste cenário, “as diferenças entre os países pobres e ricos são lentamente niveladas, mas não em termos de bem-estar geral”, diz Kurz. Isso porque neste modelo sempre terá alguém perdendo, “os perdedores globais”.

Com as novas tecnologias e racionalização dos meios de produção, a força de trabalho foi perdendo a sua importância. E os mais afetados são os países em desenvolvimento, como o Brasil. Daí, uma explicação lógica à crise. Globalização desenfreada, população cada vez mais pobre e sem esperança, especulações de bolsa que tumultuam o mercado, a bolha americana como um exemplo claro de que tudo tem limite.

Mas o Brasil? Crise aqui? Sim, é o que estamos escutando desde 2008. Mas é verdade? Reproduzo aqui dois recentes posts do colunista Stephen Kanitz, que escreve em seu blog “O Brasil que dá certo” (http://brasil.melhores.com.br):

“1. Enquanto trombeteavam manchetes de que o país estava em recessão neste segundo trimestre de 2009 , ninguém notou que a economia brasileira cresceu possivelmente 2,0% em janeiro deste ano. O resultado negativo de -0,8% é fruto do carry over dos últimos meses de 2008. Leiam o longo post que escrevi no dia 10 a esse respeito.

2. A Caixa Econômica Federal reduziu os juros pela sexta vez no ano. Esta é a hora dos engenheiros!

3. O Governo paulista corta imposto dos investimentos.

4. O setor de serviços continua a crescer. Este setor representa 60% da economia, o que deve trazer um impacto positivo de, pelo menos, 2% no PIB. Será que os histéricos estão levando em conta isso em suas previsões catastrofistas?”

Segundo post:

“Esta é a questão com que a imprensa deveria se preocupar: em como reduzir este pânico de achar que você será o próximo desempregado, quando todo economista (sério) acha que o desemprego não deve passar de -0,71% no ano.

Ou seja, menos do que 1% serão demitidos até final deste ano, em média.

A boa notícia é que este medo caiu dos 45% registrados em abril, que afetou as vendas a prazo: ninguém que tem medo compra a prazo. Quem acha que vai perder o emprego começa a poupar e a consumir menos.

Devido à notória baixa autoestima do povo brasileiro, todos acham que estarão dentre o 1% de desempregados, e não o seu colega. Isso faz com que uma recessão de 1%, no Brasil, seja aumentada em 40 vezes, devido ao pânico gerado pelos formadores de opinião.

(...)

A consequência está aí: 39% dos brasileiros ainda em pânico, apesar de uma "queda" (leia o post de ontem, mais abaixo) de somente 0,8% do PIB”.

Ou seja, crise? Hã?

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