quarta-feira, 17 de junho de 2009

Estudos Keynesianos para entender o presente

Por Laura Barile

"Em uma economia capitalista, as decisões concernentes à produção baseiam-se, antes de tudo, no princípio do lucro, não nas necessidades do homem."

Segundo a teoria keynesiana, para o capitalismo funcionar perfeitamente, o lucro advindo da produção deveria ser reinvestido na indústria, ao mesmo tempo em que seus empregados, com o salário obtido, pudessem absorver toda essa produção. O ciclo estaria completo, com um balanço perfeito entre toda a produção e todo o consumo, em processo denominado “fluxo circular”. Esse fluxo circular, no entanto, apresenta vazamentos, como a corrupção, ou a poupança. A saída estaria em uma política de investimentos e empréstimos, para aumentar o consumo por parte da população e aumentar a produção da indústria. Os investimentos tem o poder de elevar a produtividade da economia, o que leva a um aumento da produção e da renda no próximo período.

No entanto, quanto mais cresce a economia, mais as pessoas poupam, e menos espaço se encontra para escoar a produção. Aqui o leitor atento pode voltar para o meio do parágrafo anterior: aumentam-se, portanto, os investimentos, para movimentar novamente a economia, que cresce, e se reproduz continuamente nesse sistema circular. Em qualquer economia capitalista, entretanto, o sistema atinge seu limite de oportunidades e investimentos (ou seja, o aumento da produção não se sustenta sem seu escoamento). As empresas, ao se verem impossibilitadas de vender o que produzem, diminuem a produção, o que acarreta a demissão de um quadro enorme de funcionários, que, por sua vez, se vêem impossibilitados de consumir, contribuindo ainda mais para a dificuldade das empresas de venderem o que produzem.

Essa teoria foi usada para explicar o por quê de uma crise sem precedentes na história logo após um período de crescimento econômico (aqui também sem precedentes na história norte-americana), que foi a grande depressão de 1929. O que parece uma explicação simples e didática, na verdade é hoje a base para se compreender a crise atual do capitalismo.

Como saída no caso de 29, apontou-se a participação do governo, através de sua política de impostos, financiando a aquisição de bens e serviços, e contribuindo para os investimentos na economia. Ao invés disso, por que não se pensar em uma diminuição do consumo, e controle dos níveis de produção? Ou melhor, na criação de condições de trabalho e consumo para a população como um todo?

Evidentemente, a economia, assim como as formas de produção e consumo são hoje totalmente diversas de quase 100 anos atrás (poderia aqui me deter a re-resenhar o texto de Robert Kurz, mas não creio que seja o caso). Uma intervenção do Estado, por exemplo, teria que se dar de outras formas, adequadas ao contexto (e ainda assim com suas limitações).

A teoria Keynesiana, no entanto, toca em um ponto importante. A preocupação é todo o tempo em manter a produtividade e a economia a todo vapor, sem pensar em condições para que a população acompanhe esse processo. O bolo cresce, mas, por questões político-econômicas, nunca é dividido. Isso mina a própria base do fluxo circular da economia. A questão, assim, não seria pensar no keynesianismo como uma saída. A teoria de Keynes é apenas um meio de frear as consequências de um sistema que tem em sua própria base a exploração e o acúmulo de riqueza.

E justamente a reprodução desse sistema é o que se busca na sociedade atual. As injeções de investimentos e a política de crédito atuais na economia só postergam e aumentam o problema, pois propõem a saída da crise na reprodução do próprio sistema que a gera. Continua sendo mais fácil ver saídas baseadas em abstrações de cifras para as indústrias do que pensar em criar condições de consumo para toda a população (ou, permitam-me pensar fora do projeto capitalista: condições de vida dignas para a população).

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