domingo, 14 de junho de 2009

Uma outra globalização possível

Helena Guimarães Wolfenson
Se a palavra de ordem dos dias de hoje é globalização, seja ela dos mercados, do dinheiro, do trabalho, da comunicação, das informações, dos produtos de consumo e da cultura, é uma palavra um tanto vazia de sentido, ou com este deturpado, palavra muito dita e pouco compreendida, esbarra nas superficialidades do que é tido como global, unânime para todos.
Esta tal globalização sofre um impasse com a história das economias de mercado. Pois segundo Robert Kurz, mercado mundial é algo que existe desde o século XVI, no entanto as economias de mercado cresceram sob os moldes das nações, dos estados, são locais e localizadas. Com o estoque de capital nacional surgem os Estados nacionais, dotados de sistemas jurídicos e infra-estrutura próprios. A globalização dos mercados vem, mas a da economia continua baseada nos seus moldes antigos.
Somos ainda seres com referências ligadas a nossa terra, em geral, ao nossos países, em termos mais políticos do que culturais, Kurz se refere a esta associação individual de idéias políticas relacionadas ao espaço histórico das nações como algo que pertence já a um passado. No entanto, na pratica não ocorre bem assim. O desenvolvimento tecnológico em microeletrônica, comunicação e transportes fez com que a partir década de 80 começasse a se instaurar um novo modelo político e econômico que abrangesse um raio maior do planeta terra. Este rompimento de fronteiras fez com que surgisse para além dos limites nacionais, um mercado global homogêneo.
Como todo e qualquer momento de transição, aspectos novos lidam com modelos antigos, muitas vezes criando uma lógica incoerente de sobrevivência. No caso desta nova economia mundial que surge como um fenômeno de extrema relevância, alguns obstáculos passados não foram rompidos ou deixados para trás para o vigor deste novo modelo. E de forma geral, a globalização só foi absorvida pelo mundo todo representada essencialmente com a maior liberdade de ir e vir, de locomoção e comunicação, como se tivessem aberto as portas do fluxo de informação total que circula no mondo por minuto, mas sem um embasamento teórico, mudanças nas bases. Nas palavras de Robert Kurz: "A globalização produziu novos fatos, mas tanto a política como a ciência econômica permaneceram apegadas a seus velhos conceitos e teorias: os estudo da "economia mundial" ainda não faz parte do currículo universitário". O estudo e entendimento desta economia mundial que estamos falando é imprescindível para a sua consolidação como tal. Crê-se que há uma economia mundial, quando de fato, o que vigora é um mercado internacional, global.
O poderoso mercado mundial, com os seus preços mais baixos devido a tecnologização e importação de mão-de-obra barata, atingiu e devastou o mundo inteiro, até os mais longínquos confins da África, Américas, Oceania, Ásia…lugares inimagináveis hoje podem-se dizer parte de um todo, de um mercado consumidor de um certo tipo de produtos homogêneos que são direcionados a humanidade como um todo. Terão grupos terrestres que desconhecem a existência da poderosa marca Coca-Cola? Afora algumas poucas comunidades isoladas que sobreviveram aos percalços da história, creio que este é um exemplo emblemático da dissipação de um mercado único e global, mas que parte de uma única fonte, ou nação, que aos moldes imperialista dissipa sua cultura e economia para o mundo e o apresenta como uma cultura mundial e unânime.

Não que a dissipação de uma cultura seja ruim por essência, pelo o contrario, creio na troca e no lema de que quanto mais acesso melhor, quanto mais informação e possibilidades de escolha mais emancipado será o homem. No entanto, o que estamos percebendo é que o lema globalização vigora de forma deturpada.
O marketing global aumentou a concorrência que está sempre em busca de custos mais baixos e maiores vendas. E isto pode ocorrer em qualquer região do mundo, então a tal da economia mundial limita-se a abrir suas fronteiras para a maior produção e lucro de um mercado centralizado economicamente e dissipado geograficamente. Como sinteticamente resumiu a revista alemã Wirtschaftwoche, a lógica do capital globalizado é: "produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucro onde os impostos são menores." Enfim, as portas de fato se abriram, mas os primeiros a entrarem e a ocuparem as cadeiras foram os poucos que dominam um mercado enorme e teoricamente globalizado.
Por fim, muitos aspectos se transformam com estas novas diretrizes da economia, política e inclusive cultura mundial. Com o rompimento dos limites geográficos, esse deslocamento rompe com os aspectos locais de uma marca, de uma produção. Os produtos não carregam mais em suas etiquetas, como era de costume, o dizer: made in china, ou outro país, mas sim, made in Mercedes, por exemplo. A marca representa mais do que uma nação em si, nesta nova lógica do capitalismo mundial. Um capitalismo não localizado, que precisa ter em cada parte do universo suas engrenagens sempre funcionando a milhão, desconsiderando em certos aspectos as normas locais, formando um modelo econômico a parte, mas não uma economia global.
Uma vez que inegavelmente há este mercado mundial há de existir um modelo econômico que lhe acompanhe de maneira mais justa e coerente. Precisa-se agora criar-se um novo tipo de pensamento e uma economia verdadeiramente global e que valorize cada nação localizada e não transfira capital para algumas apenas em nome de uma economia global.

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