terça-feira, 16 de junho de 2009

Tempos de crise

Por Fernanda Barrelo

Quando a crise estourou nos Estados Unidos, em 2008, muitos pensavam que seria apenas um problema nacional ou no máximo afetaria os países desenvolvidos, que as nações subdesenvolvidas não seriam atingidas pela recessão americana. Assim como na crise de 1973, ou crise energética, como foi chamada, em que os pensadores brasileiros se dividiram entre os que acreditavam que a crise chegaria ao País e os que achavam que a mesma só afetaria os já desenvolvidos, até que os efeitos colaterais atingiram o Brasil.

O principal aspecto da crise de 1973 foi o desemprego, conseqüência do excesso de mão-de-obra barata dos países em desenvolvimento. Segundo Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain, na introdução do livro “Que Crise é Esta?” (1984), no Terceiro Mundo a automatização substituiu o trabalho humano que não encontrou recolocação, os produtos de exportação perderam a competitividade e espaço no mercado internacional. Enquanto isso os países desenvolvidos pensavam em regeneração do capital e na devolução de trabalhadores estrangeiros às suas origens. Agravando ainda mais a questão do desemprego.

Ainda segundo os autores além da escassez de trabalho, o endividamento também foi uma característica marcante desta crise. Ela pôde ser comparada muitas vezes com a crise de 1929, porém com outras particularidades. Em 1929, os países industrializados foram os que mais sofreram seus efeitos, dando a oportunidade dos países, com acúmulo de capital agrícola, investirem na industrialização. Já na crise de 1973, como até os países em desenvolvimento já estavam industrializados, a crise se alastrou por todo o mundo.

Contudo a industrialização no Terceiro Mundo apresentava características bem diferentes das do Primeiro Mundo “Os novos países industrializados tornaram-se predominantemente consumidores e adaptadores de tecnologia”. Essa condição limitou os países em desenvolvimento deixando-os pouco competitivos no mercado internacional, tornando a modernização a única forma de sobrevivência deste parque industrial. Como estes países não possuíam a tecnologia foram obrigados a importá-la, surgindo assim o endividamento destes países que se agravaria mais para frente.

Diante deste quadro, os três autores têm uma visão pessimista em relação ao desenvolvimento destes países recém industrializados. Pois o capital internacional que se transferia para estes países, iam por interesse e por vantagens comparativas, seja pelo reduzido custo de produção (fácil acesso à matéria-prima ou pela mão-de-obra barata) ou pelos custos ambientais (os países de terceiro mundo têm leis ambientais mais tolerantes, além de incentivos econômicos). Para os autores o papel do Estado neste caso era fundamental para criar as condições de mercado.

Todos estes fatores citados por eles indicaram as dificuldades econômicas que o mundo enfrentava como conseqüência da crise energética. Nesta época evidenciavam-se as idéias de persistência de uma supervalorização do fator econômico, como se esta análise pudesse “sobredeterminar-se em relação as demais”. Já os três autores acreditavam que essa crise levantou novas questões como “a ecologia, o impasse energético, a consciência dos limites de welfare-state, a auto-imposição social das minorias culturais e éticas, a valorização das raízes culturais do terceiro mundo e a pregação de uma ciência ética.”

A crise de 1973, diferente da crise que estamos vivendo, tinha como principal fator o desemprego, advindo da crise do petróleo, já a crise que estourou em 2008, vem principalmente do endividamento que foi agravado, ao longo destas mais de três décadas, e com o aumento do capital especulativo, como forma de obtenção de lucro.

O capital tornou-se fictício, perdendo qualquer relação com as riquezas reais, estima-se que estes fundos somam dez vezes o PIB mundial. E desta crise financeira foram quebrando as empresas, bancos e conseqüentemente aumentando o desemprego, criando a recessão e todos os outros efeitos que estamos enfrentando, inclusive no Brasil, que como na crise de 1973, muitos achavam que não nos afetaria.

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