terça-feira, 2 de junho de 2009

Karl Marx, sempre atual

Endeusado por muitos, odiado por tantos, o pensamento de Karl Marx entrou no século XXI com a sombra da falência da URSS e do suposto triunfo do capitalismo no mundo. Os mais exaltados intelectuais pró EUA falam na vitória “da democracia, do liberalismo e da iniciativa privada” sobre regimes totalitários. Francis Fukuyama falou até em “final da História”.
De fato, não podemos negar que os soviéticos (especialmente na época de Stálin) cometeram muitos crimes, assassinaram milhões de pessoas e nem chegaram perto da sociedade marxista sem classes. Mas o mundo que emergiu do pós- Guerra Fria provou que os entusiastas dos americanos estavam bem errados: A História não acabou.
O que se viu na primeira década do século XXI foram desigualdades de renda em ascensão, conflitos explodindo em todas as partes do mundo e o conceito de globalização foi posto em dúvida. A recente crise econômica mundial talvez tenha sido o clímax que comprovou que Fukuyama errou feio.
O mais curioso (e irônico) é que grandes economistas conservadores, diante da loucura em que se transformou o mercado financeiro internacional, recorrem ao bom e velho Marx para entender e poder explicar o que está acontecendo.
No seu livro III, Marx analisa produção e a circulação de forma conjunta, o que irá culminar no seu próximo objeto de estudo, o processo da mais-valia. Insatisfeito com teorias antigas que tentavam explicar o lucro, ele elaborou uma nova visão sobre o tema.
Para Marx, a mais-valia é um trabalho não remunerado que gera lucro. Ela seria a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador, o que pode ser considerado como a base da exploração no sistema capitalista.
O teórico ainda analisa as divisões do capital orgânico: inferior, intermediário e superior. O primeiro se refere a um processo produtivo pouco desenvolvido, que se utiliza de bastante mão-de-obra. Já o terceiro diz respeito exatamente ao oposto, visto como ideal pelos donos dos meios de produção, pois se usa de poucos empregados “humanos” já o que o processo todo está automatizado.
E agora a prova de que Marx está atual: podemos transferir esses conceitos para a recente crise. O capital superior precisa de cada vez menos dinheiro para produzir mais e suas máquinas acabam sendo repassadas para o nível abaixo na hierarquia proposta pelo pensador.
Logo, a concorrência se tornará brutal e muitas dessas empresas irão à falência. Sendo assim, as temidas crises são uma ótima oportunidade para que o capital seja concentrado: grandes corporações acabam “engolindo” as empresas menores. O processo sempre ocorrerá, pois faz parte do próprio sistema capitalista. Por causa disso podemos falar em crises cíclicas.
E como não poderia deixar de ser, elas afetam sempre as camadas menos favorecidas da população. A recente “estatização” da GM é um grande exemplo: dezenas de milhares de seus funcionários serão demitidos, mas parte dos poderosos executivos deverá ser mantida ou remanejada. E mesmo os que perderem seus empregos terão mais facilidade de se realocarem que seus companheiros da linha de produção.
É claro que se a taxa de mais valia fosse reduzida e a especulação financeira mundial criminalizada, os monopólios não teriam a mesma força e talvez as crises não fossem tão assustadoras. Aguardamos o dia que os importantes líderes mundiais, assim como já fazem seus assessores econômicos, comecem a ler Marx.

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