Do início do século passado a meados da década de 20, a economia estadunidense apresentou níveis de crescimento econômico sem precedentes na história, tornando-se assim, a maior potência econômica e industrial do mundo. Além do crescimento vertiginoso da produção industrial em indústrias-chave, o país adquiriu hegemonia financeira na economia mundial, o emprego era praticamente pleno e a população experimentava hábitos de consumo totalmente novos no panorama mundial, com a aquisição de bens de consumo duráveis cuja produção e comercialização eram um fato recente. Diante de um cenário tão favorável, os estadunidenses realmente acreditavam em um crescimento ilimitado que os levaria a uma era de prosperidade e abundância sem paralelos na história.
No entanto, este ciclo de prosperidade subitamente foi interrompido, com o encalhamento dos bens produzidos decorrente de uma oferta maior que a demanda, e posterior diminuição dos investimentos e da produção, o que gerou desemprego em massa, que por sua vez diminuiu ainda mais a demanda, colocando o país num círculo vicioso que parecia infindável.
Neste momento, tanto a população, quanto os dirigentes do país e estudiosos da economia, adeptos do liberalismo clássico, não sabiam explicar o que havia ocorrido, afinal, parecia impossível explicar como uma economia tão próspera, que crescia a todo o vapor, podia ter tido uma queda tão precipitada e aterradora. Todos se perguntavam onde estava a mão invisível do mercado que até aquele momento havia administrado a economia estadunidense tão bem.
Quem melhor soube explicar o fenômeno foi o economista John Maynard Keynes, ao deitar por terra a crença liberal na “mão invisível do mercado” e afirmar que, no fluxo circular em que o dinheiro flui das empresas para o público em forma de salários, remunerações, rendas, juros e retorna as mesmas quando o público adquire os bens e serviços oferecidos por elas, apresenta vazamentos.
Isto porque, segundo Keynes, este fluxo circular não é um processo automático, afinal nem todos despendem toda a sua renda. Keynes identificou três tipos de vazamento: a poupança, onde parte da renda é deixada de ser despendida para ser poupada, as importações, que fazem com que bens produzidos no interior do país deixem de ser consumidos em favor dos bens importados, e as somas destinadas ao pagamento de impostos, que obviamente, também são retiradas do fluxo rendas-despesas.
No entanto, a correção nos vazamentos se apresentava bastante fácil. Em relação a poupança, esta poderia ser contrabalanceada com a concessão de empréstimos a empresários, nos bancos onde estivessem depositadas as poupanças. Com as importações, seria contrabalancea-las com exportações, e os impostos seriam utilizados pelo governo para financiar a aquisição de bens e serviços.
Porém, Keynes não era tão ingênuo de acreditar que este processo funcionaria ininterruptamente por muito tempo, pois ele percebeu que os indivíduos de rendas mais elevadas tinham o hábito de poupar uma porcentagem maior de suas rendas que os indivíduos mais pobres, e mesmo que se quisesse corrigir esta distorção das poupanças com mais investimentos, uma hora haveria um limite para a oportunidade de investimentos lucrativos.
Não diferindo muito da análise do capitalismo feita por Marx e Hobson, a grande contribuição de Keynes foi ter apresentado uma solução realista para o problema, pois sabia que a idéia de Hobson, de equalizar a distribuição de renda, dessa forma reduzindo a poupança, seria impensável para os detentores do poder político que possuem a riqueza e o poder econômico.
A solução do Keynes foi a intervenção do Estado quando a poupança excedesse os investimentos, recolhendo o excesso mediante a empréstimos e o investindo em projetos de utilidade social. No entanto, novamente uma idéia como esta beneficiaria muito mais os setores mais pobres da sociedade que os mais ricos, que por sua vez, pressionariam a favor da não redistribuição de renda, por isso Keynes indicava que estas despesas fossem canalizadas para as grandes corporações, mesmo que isso não representasse a melhor opção para a sociedade.
Com o estouro da II Guerra Mundial, toda a produção e consumo dos E.U.A foi canalizada para o esforço de guerra, com o triste panorama da economia antes da guerra, sendo rapidamente revertido de forma positiva, com o desemprego, surpreendentemente, dando lugar a escassez de trabalho. No caso, mediante a situação mundial, as idéias de Keynes foram aplicadas num esforço de guerra, com as despesas sendo canalizadas para corporações do setor armamentista estadunidense.
Por mais que aja um esforço coletivo tanto da opinião pública quanto de economistas para não atentar para o fato óbvio de que, se hoje as idéias de Keynes ainda são sim empregadas, isso se deve pela sua execução no setor de segurança e armamentista da economia, o fato é que não é simples coincidência os E.U.A terem participado de tantos conflitos armados no último século e já no início deste. E para injetar na população a paranóia da segurança nacional e da ameaça vinda de fora, os políticos, fazendo o lobby dessas grandes corporações, não abrem mão da mentira para enganar o público, ou já se esqueceu as tão proclamadas armas de destruição em massa que haviam no Iraque?
Ester Minga.
terça-feira, 16 de junho de 2009
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