segunda-feira, 15 de junho de 2009

A especulação que surge da realidade e volta a ela

Fabiana Nanô

Em 2008, estourou a bolha. A crise foi anunciada, e logo passou da esfera da economia financeira à real. Com alarde, a mídia internacional anunciou a queda nas bolsas de valores, a estatização de bancos, a gratificação de executivos, o escândalo das hipotecas. Menos destaque tiveram as demissões de trabalhadores, o fechamento de fábricas e o pedido de concordata da General Motors e da Chrysler, antes símbolos do progresso e desenvolvimento industrial norte-americano.
Assim como a teoria econômica, a mídia hegemônica parece ter se desprendido de suas bases reais e passado a funcionar com dados e estatísticas calculados do ponto de vista estritamente financeiro. Apenas com números, é muito fácil prever uma saída para os que alguns consideram a pior crise do sistema desde 1929.
O problema desta análise é que ela não leva em conta os efeitos para a economia real de milhares de trabalhadores que não poderão mais sustentar suas famílias, que não terão dinheiro para comprar itens básicos de subsistência. Ela também não considera os milhões de seres humanos que trabalham jornadas de mais de doze horas diárias, para ganhar 1/50 do que um europeu ganha em sete horas de trabalho por dia. É à custa destas pessoas – e não de uma minoria de multinacionais financeiras – que o sistema se ergue.
No entanto, é esta minoria que dita as regras. E as conseqüências disto podem ser “absurdas e perigosas”, previne Robert Kurz.
Em seu texto “Perdedores Globais”, o filósofo alemão também alerta para o avanço das multinacionais sobre a soberania dos Estados, o que não traz qualquer desenvolvimento econômico ou vantagem aos países – as empresas querem apenas “produzir onde os salários são baixos, pesquisar onde as leis são generosas e auferir lucros onde os impostos são menores”.
A crise no modelo estatal causada pelo mercado mundial não é nova. A ela junta-se, segundo o filósofo, a formação de pequenas ilhas de riqueza (por sinal, bem protegidas por grandes muralhas) isoladas e envolvidas por uma massa que vive na fome e na miséria.
“A globalização de uma ‘economia da minoria’ tem como conseqüência direta a ‘guerra civil mundial’, em todos os países e em todas as cidades.” Já vivenciamos isso - com a construção do muro entre México e Estados Unidos, o respaldo dos europeus a políticos fascistas de extrema direita e a leis contrárias à imigração, os permanentes confrontos entre policiais e moradores de favela no Rio de Janeiro e em São Paulo, o recente massacre do governo peruano a indígenas que reivindicam o bem-estar da Amazônia contra a exploração da flora e fauna regional por multinacionais, entre outros.
As perspectivas futuras não podem ser mais sombrias, acredita Kurz, já que, segundo ele, tanto a dialética hegeliana quanto a marxista não deram frutos. É preciso, portanto, formular uma “nova crítica social”, sem esquecer que os próximos anos – ou décadas – serão dominados pelo medo, pela repressão, pela violência e, o essencial: pela falta de diálogo entre os seres humanos.

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