segunda-feira, 15 de junho de 2009

Damage is Done

No início do ano, milhares de trabalhadores realizaram na Inglaterra uma greve. O movimento começou na cidade de Lindsey, na refinaria Total. O grupo, francês, havia anunciado a contratação de operários italianos e portugueses, que foram selecionados por uma empresa italiana vencedora de licitação para projeto de extensão. Os grevistas, ingleses, vivendo em um país cujo desemprego atingia 6,1% da população ativa, protestavam contra o emprego de estrangeiros em plena recessão do país.

O Primeiro-Ministro, Gordon Brown, pouco pôde fazer para reverter a situação. Impotente na mão do capital privado (o termo chega a ser irônico se friamente analisado – o mais apropriado seria capital ‘socializado’, já que a Total é uma empresa de capital aberto, cujas ações e títulos estão na mão de diversas pessoas espalhadas pelo mundo), pois legalmente não há nada que impeça a Total de agir como agiu, os trabalhadores, por meio do sindicato da classe, conseguiu um acordo para que pelo menos 50% dos empregados sejam britânicos. E a greve chegou ao fim.

Caso Robert Kurz escolhesse um único caso para analisar o fenômeno da Globalização, a greve dos trabalhadores ingleses contra a contratação de imigrantes seria ideal. Todos os elementos do conceito estão presentes: a empresa multinacional, a impotência do Estado, a internacionalização do capital, a repartição do trabalho e, claro, os perdedores (leia-se: trabalhadores).

Nota-se a relação intrínseca entre a economia e a política. O Estado, como observou Kurz, é restrito às suas fronteiras naturais, mas a economia privada avança todos os limites. Ações políticas do ‘capitalista ideal’ são ineficazes, e, quando tomadas, contra-produtivas, pois praticamente exortam os investidores estrangeiros de fora, vitais em um mundo em que a expressão ‘economia nacional’ é cada vez mais anacrônica.

A história, que tem contornos de fábula, é real, e é emblemática quanto aos (de)efeitos da Globalização. Poderia ser também um conto de terror se o desfecho fosse alterado: ao invés da greve chegar ao fim, os trabalhadores levantaram a bandeira no nacionalismo e passou a exigir “empregos na Inglaterra para trabalhadores britânicos”. O próximo passo seria político, na forma de um partido cuja principal bandeira é a ‘retomada’ do território para seus habitantes nativos, dando um basta aos estrangeiros.

Nesse sentido, Kurz soa apocalíptico quando diz: “A globalização de uma “economia da minoria” tem como conseqüência direta a “guerra civil mundial”, em todos os países e em todas as cidades”. “Damage is done”, diria um grevista inglês sobre a Globalização e suas conseqüências. Possivelmente, ele estará desempregado agora neste mundo plano de hoje em dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário