Por Karla Romero
“É a crise!”. Este tipo de comentário tem sido constante nas páginas do jornal, em conversas do dia-a-dia. Esta é também a frase que serve de explicação para boa parte dos problemas vivenciados nos países do Primeiro e também do Terceiro Mundo. No Brasil, há quem insista em dizer que por aqui passou apenas uma marolinha. O que não explica o alto índice de desemprego, os milagres realizados por companhias de viagens para o incentivo ao turismo, a redução de taxas para se adquirir veículos e até eletrodomésticos.
Em 1973, outra crise um pouco diferente da que vivemos atualmente, também chamada de crise energética, assombrou a economia mundial. No livro “Que Crise é Esta?”, Marcel Bursztyn, Pedro Leitão e Arnaldo Chain destacam a “elevação dos custos dos combustíveis, juntamente com o encarecimento das matérias-primas em geral, expôs os países industrializados [...] a uma queda do nível do bem-estar social que se alcançou na década de 1960”.
Segundo os autores, esta crise pode ser comparada também com a de 1929. Neste período os países industrializados foram os que mais sofreram, dando a oportunidade dos países com capital agrícola investirem na industrialização. Já em 1973, como até os países em desenvolvimento estavam industrializados a crise se alastrou por todo o mundo.
No Brasil, de 1960 a 1973, o período ficou conhecido como "milagre econômico", com o crescimento econômico de 10% ao ano e o posicionamento do país entre as oito maiores economias do mundo. No entanto, a partir de 1973 com a crise do petróleo, a economia entrou em recessão e para sustentar o crescimento industrial houve o aumento da capacidade de compra da classe média alta, por meio do financiamento de consumo. Ainda, foi estimulada exportação de produtos manufaturados através de incentivos governamentais. Pela primeira vez, as exportações de produtos industrializados e semi-industrializados superaram as exportações de bens primários (produtos da agricultura, minérios, matérias-primas).
Para os autores, “Os novos países industrializados tornaram-se predominantemente consumidores e adaptadores de tecnologia”. Esta condição limitou os países em desenvolvimento deixando-os pouco competitivos no mercado internacional, tornando a modernização a única forma de sobrevivência. Como estes países não possuíam a tecnologia foram obrigados a importá-la, surgindo assim o endividamento destes países que se agravaria mais para frente e se perpetuariam até hoje.
O que se pode constatar é que a crise (ou as crises) é a condição regular do modo de produção capitalista e a estagnação a sua principal tendência. As últimas três décadas são um exemplo disso. Vive-se uma época de crise do tal sistema capitalista que se espelha na desaceleração das taxas médias de crescimento do PIB mundial de década para década, reflexo da desaceleração do “centro capitalista”: EUA, UE/Alemanha e Japão. Uma das evidências de senso comum quando olhamos para o mundo de hoje é que os países mais ricos já o eram há cem anos e os países pobres continuam pobres. O capitalismo vive com a riqueza (de alguns) e a pobreza (da maioria).
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