terça-feira, 16 de junho de 2009

Ainda sobre os perdedores globais...

Por Laura Barile

Em seu elucidativo (ou convidativo) "Perdedores Globais", Robert Kurz faz uma análise do novo paradigma da economia global como quem desfia um pulôver de lã. O autor analisa o estágio atual da globalização, dando elementos que pouco a pouco revelam a perversidade de um sistema excludente que se reproduz ao mesmo tempo em que se expande.

Em sua análise, a desterritorialização dos investimentos e o avanço da economia privada estão longe de ser o objeto de estudo detalhado que deveriam. Seu texto já é uma contribuição. O autor apresenta dados concretos que demonstram a perda gradual de poder do Estado (embora sem desconsiderar a necessidade dos investidores por infra-estrutura), que levam a um avanço da economia privada, enquanto o Estado permanece restrito às suas fronteiras territoriais. Como bem ilustra o autor “não é mais ‘Made in Germany’, mas ‘made in Mercedes’”. Esse quadro traz prejuízos (e aqui não reproduzo nada além do óbvio) principalmente para países em desenvolvimento como o Brasil, que vêem-se obrigados a afrouxarem suas exigências em busca de bons investidores.

Dentro desse mesmo contexto (aqui mais uma camada do pulôver se solta, deixando entrever um corpo desnutrido sob sua malha), a política de exportação (“integração direta sem entraves ao mercado mundial”) se contrapõe à pauperização das pessoas, que tem cada vez menos possibilidades de se integrar economicamente a esse mercado. Conclui o autor: “num futuro próximo, em cada continente, em cada país, em cada cidade, existirá uma quantidade proporcional de pobreza e favelas contrastando com pequenas e obscenas ilhas de riqueza e produtividade.” É assim, a partir de pensamentos simples bem encadeados que nos insta a pensar, e repensar o sistema perverso em que estamos inseridos.

Mas como sair dessa situação? Quais são as consequências e os caminhos apontados diante desse quadro? Robert Kurz apresenta uma nebulosa crítica ao que seria a “reação desesperada dos homens 'cuspidos' do mercado”, apontando exemplos de movimentos separatistas, ditaduras, e outras formas de solapar a soberania estatal. Como conclusão final: “A globalização de uma ‘economia da minoria’ tem como consequência direta a ‘guerra civil mundial’, em todos os países e em todas as cidades”. Permito-me uma repetição: “Guerra Civil Mundial”. Uma visão das consequencias desse modelo que, a meu ver, seria “otimista” demais – e que, ao menos no Brasil, está longe de ocorrer (o que vemos é uma massa excluída de excluídos. E ponto).*

Quando já nos vemos quase completamente despidos, Kurz apresenta um paradoxo: muito embora o Estado Nacional ainda esteja presente em todo esse processo, o retorno às economias nacionais é improvável. E justifica novamente seu bem argumentado artigo, nos incitando a um olhar aprofundado sobre o tema: “O pensamento inconformista deve ser tão ágil quanto o dinheiro fugidio. O que nos falta, na verdade, é a globalização de uma nova crítica social.”

* Quanto a isso o autor sugere “novas formas cooperativas de administração e abastecimento autônomos, capazes de suprir as necessidades básicas do homem”. Ele diz isso dentro da proposta de economias nacionais, é evidente, mas me lembrou o final do documentário Surplus – Terrorized into being consumers (uma crítica ao sistema de consumo mundial que se estabeleceu) que, também por gostar muito, reproduzo abaixo.



In this new world, the people would get back their own culture again. We will have a new set of values. There will be a paradigm shift. A big global mind shift,
Where people will suddenly say: "I don't want a fancy car".
Where people will suddenly say: "I don't want another Big Mac".
Where people will suddenly say: "I don't want to wear any Diesel jeans".
Where people will suddenly say: "I want to have a simple, fulfilling life".
Where people will suddenly say: "I want to have a simple, fulfilling life".

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