terça-feira, 16 de junho de 2009

A gangorra da crise

Por Gustavo Franceschini

As análises sobre a crise e os efeitos da mesma no sistema econômico mundial são confusas e contraditórias. Os sensacionalistas apontam supostas privatizações, os pessimistas dizem que é o fim natural do mundo e os otimistas se limitam a minimizar o problema, o classificando como mais um dos pontos baixos cíclicos do sistema.
Talvez a previsão certa ainda não tenha sido feita, e ela pode até nunca vir a surgir. A análise dos reflexos mais rasos, e ao mesmo tempo os mais fortes e doídos, foi feita há dois séculos. Na primeira grande análise do sistema capitalista já traçada, Karl Marx falava sobre a selvageria do capitalismo.
O sistema que obrigava a produção constante, o giro de capital e a busca incessante pelo lucro criava, desde o seu início, a desigualdade social. Os preceitos mais básicos do capitalismo sempre exigiram uma base explorável em benefício de uma nata que recebia os louros.
Essa relação, com o passar dos anos, evoluiu. Do patrão com o empregado, se estendeu aos poderes públicos, e, posteriormente, às nações. No auge do imperialismo, a sobreposição de Estados uns sobre os outros explicitava essa relação suja, criando mundos diferentes.
Apesar disso, o poder público ainda mantinha a aura de pretenso defensor do interesse comum, da dignidade da pessoa humana. Com a globalização, a benfeitoria da sociedade passou para as mãos das empresas, que controlaram a saúde, a educação e a segurança.
Uma crise da dimensão que nós vivemos, então, abala essas estruturas. O abuso do capital especulativo, as quebras em sequência e os grandes prejuízos de investidores assustam bilionários, que se descobrem com um patrimônio de mentira. O reflexo, no entanto, é dirigido.
Assim, passando por cima da globalização, os dividendos não são iguais para todos. Os países com mais poder de fogo sustentam suas economias, apesar dos pesares. E mesmo sob um fogo cruzado de desemprego e fome, conseguem se manter em pé, ao contrários dos emergentes e de todo o terceiro mundo, que segue abaixo da linha da pobreza. Por isso que, em um sistema que se baseia na desigualdade, crises não são sentidas em bloco, mas quase individualmente. Os primeiros atingidos, como em um naufrágio, são aqueles que se alojam nos piores quartos. A suíte presidencial está no topo, aparentemente segura, mas, ao mesmo tempo, constantemente ameaçada pelo mar revolto. Sendo assim, não é errado dizer que a tormenta já fez dos tradicionais perdedores globais suas vítimas, mas não é absurdo dizer que o topo da pirâmide terá de reinventar a roda para não sucumbir.

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